Folha de S. Paulo


Ministério da Saúde confirma primeiro caso de 'febre do Nilo' no país

O Ministério da Saúde confirmou nesta terça-feira (9) o primeiro caso de febre do Nilo Ocidental no país. Um vaqueiro piauiense de 52 anos, morador de Aroeiras do Itaim (a 332 km de Teresina), foi internado em agosto deste ano, mas a doença só foi diagnosticada no dia 28 de novembro após a realização de dois exames sorológicos específicos para a detecção do vírus.

O paciente, que não teve o nome divulgado, foi internado após apresentar febre, dor de cabeça, paralisia nos braços e pernas, confusão mental e rigidez na nuca. Quando passou a ter convulsões, ele foi encaminhado a outra unidade de saúde, onde foi diagnosticado com meningite. Como o quadro piorou, foi transferido para o Hospital Natal Portela, onde ficou uma semana na UTI. Atualmente, ele não corre risco de morte, mas não consegue andar.

O Ministério da Saúde trata o caso como isolado e diz que investiga a forma de transmissão e como o vírus chegou ao país. Em nota, nega a possibilidade de ocorrer uma epidemia e afirma que o caso "não representa risco para a saúde pública do Piauí e do Brasil".

O médico neurologista, Marcelo Adriano Vieira, que atendeu o paciente, disse que ele está consciente, mas com fraqueza nas pernas. "Ele está em casa, faz fisioterapia em uma clínica na região, mas ainda é cedo para dizer se ele ficará com sequelas. O quadro dele tem evoluído bem", afirmou.

Eduardo Scolese - 02.set.2008/Folhapress
Vista da cidade, Aroeiras do Itaim (PI), onde foi confirmado primeiro caso de
Vista da cidade, Aroeiras do Itaim (PI), onde foi confirmado primeiro caso de "febre do Nilo" no país

TRANSMISSÃO

Ainda não há confirmação de como o vírus chegou ao país. Uma das hipóteses é que ele tenha sido transmitido após um mosquito picar uma ave contaminada e, em seguida, transformar-se em vetor da doença. O vírus é transmitido por mosquitos comuns, principalmente do gênero Culex.

Segundo a pasta, outros países, como Estados Unidos, já apresentam relatos da doença –uma das possibilidades investigadas é que o vírus tenha chegado ao país por uma ave migratória, por exemplo. Em 2012, ao menos 1.118 casos foram diagnosticados nos EUA –17 pessoas morreram.

Ao todo, cerca de 80% dos casos em humanos não apresentam sintomas, de acordo com o Ministério da Saúde. Apenas 20% dos casos apresentam sintomas semelhantes aos da gripe, como febre, fadiga, dores de cabeça e dores musculares ou articulares, e menos de 1% dos humanos infectados ficam gravemente doentes, sendo que a maioria dos casos graves acomete idosos.

Os sintomas graves incluem febre alta, rigidez na nuca, desorientação, tremores, fraqueza muscular e paralisia. As pessoas gravemente afetadas podem desenvolver encefalite ou meningite (inflamação das membranas do cérebro ou da medula espinhal).

Ainda segundo o Ministério, não existe tratamento específico para a Febre do Nilo. O paciente fica hospitalizado em observação para suporte e controle de novas infecções.

Além do trabalhador que teve o caso confirmado no Piauí, outras quatro pessoas da região apresentaram sintomas, mas os exames descartaram a doença, informa o ministério. Além destes, foram realizados testes em mais 18 pessoas da região onde ocorreu o primeiro caso confirmado –todos os exames, no entanto deram negativo para o vírus.

O secretário de Saúde do Piauí, José Fortes, informou que os municípios vizinhos a Aroeiras do Itaim estão sendo monitorados. Equipes do Ministério da Saúde como veterinários, biólogos, entomologistas, enfermeiros e médicos estão na região para descobrir como o vírus chegou até o Estado e se há risco em outros pacientes.

"Não se trata de epidemia, mas de um caso isolado, mesmo que inusitado e inédito no país. Todas as providências estão sendo tomadas", afirmou o secretário.

O prefeito de Aroeiras do Itaim, Wesley Gonçalves de Deus (PTB), informou que equipes de saúde estão na cidade explicando o que é a doença para evitar pânico entre os moradores.

"É uma doença nova, mas as pessoas estão conscientes sobre o vírus. Técnicos estão na cidade fazendo novos estudos e se forem confirmados novos casos teremos que adotar medidas mais rígidas", disse o prefeito.


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