Folha de S. Paulo


Após campanha contra assédio, homens são presos em Curitiba

Uma campanha que pretende coibir e denunciar o assédio contra mulheres no transporte coletivo já resultou na detenção de dois homens em Curitiba.

Eles foram autuados por importunação ofensiva ao pudor, prevista na Lei de Contravenções Penais, e terão de responder pelo crime.

Um deles foi capturado pelo motorista do ônibus, que foi alertado por passageiros, no último dia 25, data de lançamento da ação pela prefeitura da capital paranaense.

O agressor, que se esfregava em duas mulheres no fundo do veículo no horário de pico, tentou sair pela janela. O motorista parou o ônibus, correu atrás dele e o deteve.

Detido no dia 27, o outro preso, de 65 anos, foi denunciado por adolescentes que eram assediadas havia meses e resolveram acionar a Guarda Municipal de Curitiba após lerem a cartilha da campanha, distribuída pela prefeitura.

"Esse tipo de prática é comum e, infelizmente, silenciosa", diz o diretor da guarda, Cláudio Frederico de Carvalho. "Na maioria das vezes, a mulher fica calada."

Chamada "Busão sem abuso", a campanha quer estimular passageiros, motoristas e cobradores a denunciarem os casos à guarda, que passou a atender com prontidão as ocorrências.

Agora, todos os 45 veículos estão autorizados a socorrer as vítimas (antes, eram só nove) e encaminhá-las à Delegacia da Mulher. Os guardas também podem interceptar o ônibus no trajeto para capturar o molestador.

Uma parceria com a polícia e o judiciário estabeleceu que os casos seriam atendidos com celeridade. "Se você vai a uma delegacia comum, muitas vezes dizem: Ah, isso não é nada'", diz Carvalho. "Isso desmotiva as vítimas."

Valdecir Galor/SMCS/Divulgação
Campanha em ponto de ônibus em Curitiba para conscientizar sobre
Campanha contra o assédio em ponto de ônibus em Curitiba

TREINAMENTO

Os motoristas estão passando por treinamento sobre como agir nesses casos. "Nossa ideia é que as mulheres se sintam amparadas", diz a secretária municipal da Mulher, Roseli Isidoro. "O simples fato de a campanha estar na rua já constrange o assanhadinho habitual."

Os dois detidos foram liberados após o registro da ocorrência –o crime é de menor potencial ofensivo, mas eles irão responder na Justiça. Um deles já respondia por crimes sexuais. "Ele disse que não estava fazendo nada, que só tinha mulher dentro do ônibus", conta o motorista Sérgio Fabrício Valentini, que deteve um dos agressores.

"Estavam me chamando de delegado lá na empresa. Mas fiz minha obrigação de homem, de pai", diz. "Não quero que isso aconteça com minha filha nem com ninguém."


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