Folha de S. Paulo


Obra em cachoeira opõe Sabesp e moradores de Ubatuba

Renata é alvo de uma contenda em Ubatuba (SP). A cachoeira que leva esse nome, em Maranduba, está ocupada por tapumes e canos, parte da obra da Sabesp que vai usá-la para abastecer três bairros, além da própria praia de Maranduba.

De um lado da disputa, moradores e a prefeitura, que temem que a queda-d'água seja afetada, o que prejudicaria o turismo e a paisagem. De outro, a empresa e o Ministério Público, que afirmam que a obra tem todas as licenças e que não há risco.

O movimento SOS Cachoeiras, formado por moradores, não é contra a construção da nova rede de abastecimento. O problema, diz, é o ponto de captação: acima da queda. O curso da água é dividido pela barragem e segue, menor, pelas pedras onde turistas se refrescam no verão.

O grupo entrou com uma ação para pedir a paralisação da obra. O Ministério Público, no entanto, diz que ela é de utilidade pública e segue a legislação. Na quarta (12), após pedido da prefeitura, a Sabesp suspendeu a construção.

A administração solicitou informações complementares, incluindo uma análise técnica sobre a possibilidade de alterar o local de captação.

A Secretaria de Meio Ambiente pediu ainda que a Cetesb faça uma vistoria no local para se certificar de que as atividades estão de acordo com as licenças concedidas.

Para a aposentada Tânia Costa Ramil, 65, que mora bem próximo ao local, faltou diálogo com a comunidade. "Sabemos das necessidades locais, mas temos medo de perder nossa cachoeira. A Sabesp poderia fazer a obra no final das quedas, que teria água do mesmo jeito."

Desde o início das obras, em 2012, o acesso ao local está restrito a funcionários. A guia de turismo Marianna Pavan, 34, diz que a Rota das Cachoeiras, que abrange o trecho em obras, é um dos mais procurados por turistas no sul de Ubatuba e que o setor terá grandes perdas.

"Onde tinha árvores, quedas-d'água, vai ficar com concreto, canos, tubulações. Além disso, o reservatório que será alagado vai tirar o acesso à cachoeira Água Branca", afirma.

A gerente Maria Emídio dos Santos, 59, diz que presenciou uma situação semelhante no rio Piabas. Segundo ela, após uma obra da Sabesp a água praticamente secou. "Eles fizeram a barragem e a água foi diminuindo."

A empresa rebate, dizendo que a captação foi autorizada pelo órgão competente e que não é a única a retirar água do local. No caso da cachoeira da Renata, a Sabesp diz que a obra é regular e necessária. Em nota, informa que tem todas as licenças para o novo sistema de captação e tratamento de água, que irá abastecer mais de 50 mil pessoas.

A Cetesb (companhia ambiental do Estado) diz que emitiu as licenças solicitadas e que a estação deveria ficar 3 km abaixo da cachoeira da Renata, o que será verificado.


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