Folha de S. Paulo


Para evitar 'volume morto', donos dão água mineral para seus bichos

Chanel não abre mão de certos luxos: sua coleção de roupas exclusivas, os passeios de barco pelo litoral norte de SP ou seu kit diário de suplementos vitamínicos.

Ultimamente, porém, isso tudo passou para o segundo plano. Sua prioridade, no momento, é outra. Ela nem cogita sair de casa sem suas garrafinhas de água mineral.

Água de torneira Chanel não tolera ao menos, essa do tal volume morto. Só esse nome já me assusta, afirma a blogueira de bem-estar Kell Cavalcante, 30, dona da cadela, uma lulu da Pomerânia de nove meses.

Filhotes dessa raça, que não custam menos de R$ 3.000, fazem a cabeça de celebridades como Paris Hilton, Karina Bacchi e Gwen Stefani.

Para Kell, dar água mineral à sua Chanel não é frescura: Ela não suporta nem o cheiro da água que sai da torneira bem desagradável. Percebe-se que o cloro está muito mais acentuado. Sem falar na textura leitosa.

Segundo a Sabesp, a água que vem do volume morto é potável. Retirada do nível mais profundo dos reservatórios do sistema Cantareira, ela é analisada regularmente desde a origem até os pontos de consumo. Variações de gosto e odor, de acordo com a empresa, são aceitáveis, pois há diferenças naturais entre os mananciais.

Em nota, informa ainda que, além de laboratórios certificados, mantém uma equipe de degustadores, profissionais que provam água de diferentes estações de tratamento para detectar qualquer anormalidade no sabor, no aroma e na densidade.

Mesmo assim, o empresário Hélio Sileman, 65, diz que não abre mão de dar água mineral à sua cadela Flor, uma akita de oito anos que, há dois meses, sofreu uma crise de diarreia. Troquei a água, e aí ela se curou. Não é luxo, é cuidado com a Flor.

Veterinário da cadela desde 2008, José Manuel Mourino, 37, não vê uma relação direta entre o consumo da água do volume morto e a piora no quadro clínico da akita.

Faz, no entanto, uma ressalva: Aumento de cloro, mudanças no pH [potencial hidrogeniônico, escala que mede o nível de acidez da água] e outras alterações químicas podem provocar problemas intestinais, dependendo da sensibilidade do animal. Trocamos a água e mudamos também a alimentação. Agora, ela está bem, mas não dá para culpar a água, diz Mourino.

FILTRADA OU FERVIDA

Nas redes sociais, pipocam relatos de donos de cães e gatos que não engolem as explicações técnicas e passaram a servir água mineral, filtrada ou fervida a seus animais. Muitos relatam que suas mascotes sofreram alterações intestinais por terem consumido a água da torneira.

O veterinário Eduardo Favale, 37, contudo, não se deixa influenciar pelo efeito spam. Acostumado a lidar também com animais de rua, afirma que o temor em relação à água do volume morto beira a neurose. Ele recomenda, isto sim, a análise da água de poços artesianos, que proliferam pela capital e pelo interior do Estado.

Lembra que, há cerca de três anos, um surto de giárdia (protozoário microscópico que provoca males intestinais) atingiu cães na região da Granja Viana, na zona oeste. Diarreias, cólicas abdominais e náuseas, além de perda de peso, estão entre os sintomas da giardíase, doença que pode aparecer entre uma e duas semanas após a infecção e durar de duas a seis semanas.

Naquele caso, segundo o veterinário, a água contaminada ajudou a propagar o parasita entre os animais.


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