Folha de S. Paulo


Ele deixa legado de sabedoria e ética, diz filha de Adib Jatene

A filha do médico e ex-ministro da Saúde Adib Jatene, Ieda Jatene, afirmou neste sábado (15), feriado da Proclamação da República, que não poderia explicar a importância que o pai teve na formação pessoal e profissional dela e dos irmãos.

"Além de ele ser meu pai, ele sempre foi um amigo nosso, dos quatro filhos. Para nós, é um perda imensa como pai. Mas eu tenho certeza de que ele se foi da forma digna como ele gostaria de ter ido, e nós fizemos tudo que nós poderíamos em vida", disse Ieda durante entrevista à rádio Jovem Pan nesta tarde.

Autor e coautor de cerca de 700 trabalhos científicos publicados na literatura nacional e internacional, deixa a esposa Aurice Biscegli Jatene e quatro filhos -os médicos Ieda, Marcelo e Fábio, além da arquiteta Iara.

Ieda lembrou ainda as contribuições inéditas de Jatene para a medicina brasileira. "Acho que ele deixou um legado imenso de sabedoria, de conhecimento, de ética, de profissionalismo, de retidão de caráter."

Na noite desta sexta-feira (14), o médico de 85 anos passou mal e foi levado ao Hospital do Coração, em São Paulo, onde morreu. O cardiologista havia sido internado em setembro no hospital após sofrer um infarto agudo do miocárdio.

O corpo do ex-ministro foi velado no anfiteatro do Hospital do Coração. O enterro do cardiologista Adib Jatene ocorreu às 17h30 no Cemitério do Araçá, na zona oeste da capital paulista.

Ao contrário do velório, que contou com a presença de políticos e autoridades da saúde pública, o sepultamento foi restrito a familiares, amigos e colegas. Cerca de 200 pessoas compareceram.

Antes de o caixão ser baixado, o médico recebeu uma última salva de aplausos. Emocionados, os presentes entoaram canções como "Como é Grande Meu Amor Por Você", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Fascinação", "Carinhoso" e "Suíte dos Pescadores".

Quando o caixão estava prestes a ser baixado, o filho de Adib, Fábio Jatene, pediu uma pausa para que a viúva Aurice Jatene, que estava próxima ao caixão, se despedisse uma última vez.

BIOGRAFIA

Diretor-geral do HCor e um dos pioneiros da cirurgia do coração no Brasil, Jatene tinha mais de 20 mil procedimentos em seu currículo. Foi o primeiro a realizar a cirurgia de ponte de safena no Brasil e inventou aparelhos e equipamentos médicos.

Filho de um seringueiro libanês e de uma dona de armarinho, era natural de Xapuri. Estudou na USP (Universidade de São Paulo) e aos 23 anos formou pela Faculdade de Medicina. A residência e pós-graduação foram feitas no Hospital das Clínicas da mesma faculdade.

Nunca se filiou a partidos, mas participou de várias gestões. Atuou como secretário estadual da Saúde de São Paulo (1979-1982), no governo de Paulo Maluf, e duas vezes como ministro, na mesma área, nas gestões Fernando Collor (1992, por oito meses) e Fernando Henrique Cardoso (1995-1996, por 22 meses). No governo de FHC, criou a CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), para ajudar a financiar a saúde brasileira.

Ano passado, chegou a presidir uma comissão de especialistas que ajudou o governo federal na formulação de projeto para mudanças no ensino médico, mas se afastou depois de o governo de Dilma Rousseff (PT) lançar, à revelia da comissão, o programa Mais Médicos.

Em entrevista à Folha, Jatene criticou o fato de os programas de residência darem ênfase à alta tecnologia e especializações. "O médico precisa se transformar em um especialista de gente", disse ele à época.

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RAIO-X: ADIB JATENE

NOME COMPLETO: Adib Domingos Jatene

NASCIMENTO: 4.jun.1929, em Xapuri (AC)

MORTE: 14.nov.2014, em São Paulo (SP)

PROFISSÃO: Cardiologista

CARGOS OCUPADOS:

  • Ministro da Saúde (dois mandatos: em 1992, por oito meses, e de 1995 a 1996, por 22 meses)
  • Secretário de Saúde do Estado de SP (1979 a 1982)
  • Diretor-geral do HCor
  • Médico no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
  • Professor na Faculdade de Medicina da USP e na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro

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