Folha de S. Paulo


Com solo seco, 'efeito esponja' deve retardar recuperação de represas em SP

Mesmo com a chuva forte que trouxe transtornos e alagamentos à Grande São Paulo na segunda-feira (3), cinco das seis maiores represas que abastecem a região metropolitana perderam água. O Cantareira foi exceção –pela primeira vez desde 27 de setembro manteve-se estável.

Mas, devido ao desfalque em outros reservatórios, como Guarapiranga e Alto Tietê, caiu a quantidade de água para abastecimento na Grande São Paulo, conforme medições na manhã de terça (4), um dia após os temporais. Houve chuva moderada em alguns pontos nesta terça –e a tendência é que ela continue até domingo.

Mas a expectativa é que o impacto seja quase invisível nas represas –que estão extremamente baixas e com solo exposto. O "efeito esponja" é um dos problemas que devem retardar a recuperação do Cantareira, maior reservatório da região metropolitana.

Com as represas esvaziadas, parte do solo argiloso que antes ficava submersa está agora exposta e seca. Na prática, as chuvas precisam encharcá-lo antes que ele consiga armazenar a água.

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

O regime de chuvas é um fator primordial no ritmo de recuperação do reservatório. Elas precisam ser contínuas.

Segundo especialistas, não há como definir um tempo para que a água seja efetivamente acumulada. "É temerário falar em um prazo. Mas esse é um efeito importante a ser considerado", afirma Pedro Luis Côrtes, professor de gestão ambiental da USP.

Chuvas rápidas, mesmo que fortes, como as de segunda, demoram mais para provocar a saturação do solo.

Outro obstáculo é que a chuva precisa ser intensa nas regiões das represas. Na segunda, choveu 10,5 mm em Santana (zona norte) –quase metade do total de outubro. Em Guarulhos, 35,9 mm. Mas não choveu nada na região do Guarapiranga (zona sul).

No Cantareira, a chuva de 15,7 mm foi suficiente somente para frear a queda constante do nível da represa.

CAPACIDADE

O nível de abastecimento da Grande São Paulo na terça (4) era de 16,5% considerando as seis maiores represas. No dia anterior, 16,6%.

O estado mais crítico é no Cantareira, que tinha ontem 11,9% de sua capacidade, considerando a segunda etapa do volume morto (porção de água que fica abaixo da tubulação de captação). Sem ela, seu nível é de só 1,2%.

Pelo ritmo de queda do Cantareira no mês passado, a primeira etapa do volume morto pode acabar em 10 de novembro. Pelo ritmo dos últimos sete dias, no dia 14.

O nível do Guarapiranga, que opera com 37,9% da capacidade, vem caindo de maneira acelerada. Na terça, a represa sofreu sua maior queda desde que ela passou a socorrer o Cantareira.

A chegada de uma frente fria no leste e sul do Estado deve trazer nesta semana pancadas de chuvas como as de segunda. Outra frente fria na sexta deve causar mais chuvas principalmente no sábado. A partir de segunda, a tendência é que elas diminuam.

A previsão para os próximos três meses é que as chuvas fiquem dentro da média do verão. O Cantareira, com isso, deve chegar à estação seca com seus reservatórios ainda baixos. Segundo especialistas, ele pode levar até cinco anos para se recuperar.


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