Folha de S. Paulo


Em meio à seca, Prefeitura de Itu (SP) apela para caixas d'água gigantes

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O orelhão gigante de Itu (a 101 km de SP), que foi retirado da praça da Matriz na sexta (24) para o conserto, corre o risco de perder o posto de símbolo da cidade paulista em que tudo é superlativo.

Sem conseguir cumprir o racionamento oficial que já dura quase nove meses, com água suficiente para abastecer apenas um terço dos 165 mil habitantes e com protestos quase diários devido à falta de água, a prefeitura espalhou caixas d'água gigantes pela cidade para amenizar a maior crise hídrica de sua história.

Na Vila Industrial, uma caixa d'água azul de 20 mil litros e cinco metros de altura estava cercada de pessoas que retiravam água das oito torneiras na tarde desta terça (28).

"Em casa faz quatro meses que não vem água. Caminhão-pipa faz 18 dias que não para lá", reclama o aposentado Atílio Sagion, 58, morador da Vila Guitti, enquanto coloca 200 litros de água no porta-malas e no banco traseiro de seu Fiat 147. "Semana passada comprei dez galões de água mineral para dar descarga e tomar banho."

Nas filas, moradores trocam experiências do que fazer na escassez e de endereços de bicas. O vaivém de carros e pessoas é interminável e, quando a água acaba, caminhões-pipa reabastecem o reservatório.

Mas quando a fila está muito grande ou alguém tenta se aproveitar da situação, o clima de solidariedade fica de lado.

"Presenciei uma confusão porque um rapaz queria pegar mil litros de uma vez, e quem estava com galão como eu esperava muito", diz a dona de casa Sandra Leme, 40. "Cheguei às 9h e saí às 13h."

Na Vila Aeroporto, um carro da Guarda Municipal tem de ficar 24 horas ao lado de outra caixa de 20 mil litros para evitar ocorrências. Há pessoas que escrevem os nomes nos galões para evitar furtos e assaltos.

São ao todo 12 caixas que começaram a ser espalhadas na semana passada. A prefeitura considera que a experiência deu certo e pretende aumentar a oferta.

"Foi um sugestão da própria população", diz o coronel Marco Antônio Augusto, porta-voz do comitê criado para gerir a crise no município. "Dentro do possível, as pessoas estão mostrando satisfação."

"E quem não tem carro?", questiona Wagner Eduardo, 26, desempregado que colocou 140 litros de água no porta-malas de seu Gol.

Ele disse estar sem água há mais de 30 dias e contou que, nesse período, o caminhão-pipa passou apenas duas vezes na sua rua -por isso tem buscado água diariamente em um contêiner de 70 mil litros que foi instalado na administração regional do Pirapitingui, distrito de Itu onde ocorreram os protestos mais violentos nas últimas semanas. "Não mudou nada. Continuo tomando banho de caneca."

"Aquilo é uma palhaçada! Como alguém vai atravessar uma rodovia duplicada carregando água? Não tem semáforo, passarela, lombada, faixa de pedestre, nada", questionou uma moradora que não quis se identificar com medo de represálias.

"Não estamos vendo medidas concretas para resolver o problema", afirma a promotora Maria Paula Pereira da Rocha, do Ministério Público Estadual em Itu, que, na semana passada, entregou 12 mil assinaturas à Procuradoria Geral do Estado pedindo a intervenção do governo estadual no município.

"São medidas paliativas, e elas são insuficientes", diz a promotora. "Há ausência de gestão e falta de transparência na distribuição da água. Com a intervenção, seria possível gerir melhor a crise. Existem recursos hídricos. Mas não há logística."


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