Folha de S. Paulo


Abastecimento volta ao normal em Campinas; Sanasa não descarta novas falhas

Após 11 dias de falta de água para mais de 20% da população de Campinas (a 93 km de SP), o abastecimento foi normalizado nesta terça-feira (21), segundo a Sanasa (empresa mista de água e esgoto do município).

Mas não é possível garantir que o problema não volte a ocorrer nos próximas semanas, afirma o diretor técnico da Sanasa, Marco Antônio dos Santos. "Não dá para garantir, nem que sim, nem que não."

"Nós dependemos do sistema Cantareira. Se ele secar, vamos depender só da chuva", afirma Santos. "A informação que temos é de chuva [nos próximos meses], com a chegada do El Niño para o Brasil. Se chegar será muita chuva, mas por enquanto é só previsão."

A empresa diz que o fim da crise foi possível devido à melhora na vazão do rio Atibaia, que abastece 93% da população (o rio Capivari é responsável pelos outros 7%). Enquanto a vazão do Atibaia nesta terça é de 5,26 m3/s, a Sanasa está captando 3,9 m3/s no rio –durante a crise, chegou a pegar apenas 2 m3/s– e outros 0,25 m3/s no Capivari.

Contribuíram para o fim do desabastecimento a leve chuva de domingo, que aumentou a vazão do Atibaia em 1 m3/s, e o envio de mais água do Cantareira para o interior, que aumentou de 4 m3/s para 4,5 m3/s há uma semana.

"A concentração de poluentes diminuiu, aumentando consideravelmente os níveis de oxigênio da água", informou a empresa, em nota. A orientação é que, caso moradores constatem falta de água em algum bairro da cidade, entre em contato pelo telefone 0800-7721-195.

SITUAÇÃO CRÍTICA

Se as temperaturas voltarem a subir nos próximos dias, no entanto, a tendência é que o consumo aumente, a vazão do rio diminua e volte a faltar água para a população.

Como os reservatórios da Sanasa são capazes de manter Campinas abastecida por apenas seis horas, o fornecimento é rapidamente prejudicado. "Estamos administrando uma situação crítica", diz Santos. "A seca é pior que a de 1953, e conseguimos abastecer em torno de 80% da população."

Nos últimos dias, a falta de água afetou entre 270 mil (no sábado e domingo) e 441 mil moradores (na quinta), segundo a Sanasa. Há dez dias, o desabastecimento atingiu metade do 1,1 milhão de habitantes de Campinas. Protestos se espalharam pela cidade, e em alguns bairros moradores dizem ter ficado sem água por até seis dias.

Apesar de ter passado a divulgar quais bairros e regiões da cidade ficariam sem abastecimento durante a crise, a Sanasa continua negando que houve rodízio ou racionamento em Campinas. "Não era caracterizado porque eu não conseguia nem fazer rodízio", diz o diretor técnico.

SISTEMA CANTAREIRA

Campinas e outras cidades do interior dependem do Cantareira porque as represas do sistema são formadas pelo represamento dos rios que formam o Piracicaba antes de eles chegarem à região. Ele abastece diretamente 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo (antes da crise eram 8,8 milhões), para onde estão sendo enviados 19 m³/s de água, e indiretamente 5,5 milhões no interior, para onde estão sendo enviados 4,5 m³/s.

Hoje, o Cantareira operava com apenas 3,3% da sua capacidade (já incluída a primeira cota do "volume morto"). A segunda e última cota do "volume morto" deve acrescentar mais 10% ao volume atual.

O sistema Cantareira tem ao todo 1,46 trilhão de litros de água -sendo 974 bilhões de volume útil e 486 bilhões de "volume morto" (ou reserva técnica). Dos 974 bilhões do volume útil e 182,5 bilhões da primeira cota do volume morto, restam menos de 30 bilhões de litros de água. A segunda cota adicionará 106 bilhões ao sistema.


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