Folha de S. Paulo


Falta de água leva a 'vaquinha' por caminhão-pipa e fuga ao litoral de SP

A falta de água já leva moradores de São Paulo a fazer até uma "vaquinha" entre vizinhos e, assim, garantir o abastecimento por meio de caminhões-pipa. Quem pôde sair buscou refúgio no litoral no fim de semana. O resultado foi um movimento típico de férias de verão, com tráfego lento nas estradas.

"Chego à noite e nunca tem água. Está faltando todos os dias", diz Fátima Gonçalves, 38, que estuda recorrer ao caminhão-pipa para encher a caixa d'água na casa onde mora, no Jaraguá, na zona norte. Ela enfrenta o corte todos os dias a partir das 20h.

Moradores de diferentes regiões tentam reforçar o estoque como podem. A dona de casa Alessandra Ribeiro, 32, aproveita para guardar água durante a semana em Cidade Ademar, na zona sul, onde mora.

"Encho balde, garrafas. Vale tudo. A água que usamos para lavar a roupa também lava o quintal", afirma.

Vinicius Pereira/Folhapress
Moradora do Jaçanã, na zona norte, a costureira Lindalva Maria Dias, 64, utiliza técnicas aprendidas na Paraíba para ter água
Moradora do Jaçanã, Lindalva Maria Dias, 64, utiliza técnicas aprendidas na Paraíba para ter água

No Jaçanã, na zona norte, moradores se queixam que há três meses que a água é cortada entre as 21h e as 6h. Agora, já falta até durante o dia. A saída é economizar e reaproveitar o pouco que conseguem tirar da torneira.

A costureira Lindalva Maria Dias, 64, tem baldes por todos os cantos da casa, principalmente na cozinha.

Quando lava a louça ou as verduras, ela deixa uma bacia embaixo da torneira para aproveitar a água. "O que cai aqui eu jogo no balde e depois uso para a descarga do vaso na sanitário."

Mas esse não é seu único método para enfrentar o problema. "Também reutilizo a água da máquina de lavar. A primeira água, que sai mais suja, uso para lavar o quintal, e a segunda, mais limpa, uso para lavar outras roupas."

Até mesmo quem ainda não ficou sem água já adota medidas preventivas.

O engenheiro Pietro Verdile, 28, foi pego de surpresa nesta semana por um aviso no condomínio onde mora. No papel, o comunicado: "Situação de risco". Verdile diz que o aviso deu certo: "Todo mundo controlou".

Segundo a Sabesp, as queixas tiveram redução de 60% em comparação com o final de semana anterior (11 e 12/10). No Jaçanã, os casos foram causados por uma manutenção emergencial.

LITORAL

As cidades do litoral paulista ficaram lotadas no final de semana. Em Guarujá (Baixada Santista), a ocupação dos hotéis já estava em quase 100% na sexta (17), segundo a associação comercial. Em Ilhabela, foi o terceiro fim de semana consecutivo com lotação total nos hotéis e pousadas.

A vendedora Bruna de Moraes, 19, citou a escassez de água como um dos motivos para alugar, com mais 19 jovens de Jacareí (84 km da capital), uma casa para o fim de semana em Caraguatatuba.

O tempo médio de espera para a balsa entre São Sebastião e Ilhabela chegou a ultrapassar três horas no fim da tarde de domingo. Alguns supermercados chegaram a ter fila.

Muitos turistas resolveram estender o horário de voltar para casa. Foi o caso do advogado Alessandro Reis, 28, que passou o fim de semana em Caraguá. "Vai ser inevitável pegar congestionamento, mas pelo menos curtimos o final de semana."


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