Folha de S. Paulo


Falta de água começa a atingir a Unicamp e bairros ricos de Campinas

A crise no abastecimento de água em Campinas (a 93 km de São Paulo), que já dura mais de uma semana e chegou a afetar metade dos 1,1 milhão de habitantes no sábado (11), começa a atingir regiões nobres da cidade.

Até então, apenas as regiões mais altas e os bairros mais afastados estavam sendo prejudicados, ficando até seis dias sem água.

Nesta sexta-feira (17), o desabastecimento atingiu 367 mil habitantes, segundo a Sanasa (empresa mista de água e esgoto). Ontem, foram 441 mil.

Apesar de ter passado a divulgar antecipadamente quais bairros e regiões da cidade ficarão sem abastecimento ontem, a Sanasa continua negando que haja rodízio ou racionamento em Campinas.

Hoje, parte da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) teve corte no fornecimento. Cerca de 30 institutos, faculdades e órgãos foram atingidos, segundo a reitoria, com exceção de saúde (que inclui o Hospital das Clínicas). O restaurante administrativo foi fechado e a moradia estudantil, que fica fora do campus, ficou sem água.

O desabastecimento atinge também um dos três campi da PUC-Campinas, os hospitais Centro Médico e Boldrini, em Barão Geraldo (distrito de Campinas onde também ficam a Unicamp e a moradia estudantil) e começa a chegar a bairros e condomínios nobres e de classe média alta, como Alphaville, Swiss Park e Mansões Santo Antônio.

O shopping Galleria também ficou desabastecido. Uma agência bancária no bairro Castelo foi fechada devido à falta de água.

"Cheguei às 9h para abrir a lavanderia e já não tinha água", diz o empresário Denny Cesare, 43, que tem uma lavanderia em Barão Geraldo. "O dia foi perdido. Avisei os clientes na página da loja e coloquei um aviso na porta: 'Fechado por falta de água'. Amanhã não sei se vou conseguir abrir de novo."

"Eu dependo da água para trabalhar. Ficar sem água é prejuízo", afirma Cesare. Ao voltar para casa, em outra região da cidade, ainda de manhã, percebeu que lá também não havia água. "A Sanasa informou que só vai voltar às 23h. Pelo menos o condomínio tem piscina e deu para refrescar."

ALTAS TEMPERATURAS

Esta sexta foi o dia mais quente já registrado em Campinas pelo Cepagri, da Unicamp, desde 1988: foram 38,1ºC às 14h40. Durante toda a semana, as temperaturas máximas ficaram acima dos 36ºC e a umidade, abaixo dos 20%, fazendo com que a Defesa Civil decretasse estado de emergência na segunda e de alerta terça, quinta e hoje.

A Sanasa culpa a baixa vazão dos rios, a má qualidade da água e o aumento de consumo da população, devido ao forte calor, pela crise de abastecimento.

Enquanto há picos de 4,1 m3/s de consumo de água (a média era 2,8 m3/s antes da onda de calor), a empresa está conseguindo captar e tratar entre 2,9 m3/s e 3,1 m3/s dos rios Atibaia (responsável pelo abastecimento de 93% da cidade) e Capivari (7%).

Como os reservatórios da Sanasa são capazes de manter a cidade abastecida por apenas seis horas, um problema na captação de água dos rios é sentido rapidamente pela população.

A previsão é que o fim de semana seja de altas temperaturas, com máximas de 37ºC, segundo o Cepagri, mas uma frente fria deve chegar a partir de segunda-feira (20), trazendo pancadas de chuva já no fim da tarde de domingo e a possibilidade de temporais na semana que vem.

"É uma frente fria muito intensa que vem do Sul e deve romper o bloqueio atmosférico que vem mantendo essa massa de ar quente e seco dos últimos dias", afirma a meteorologista Ana Ávila, do Cepagri.


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