Folha de S. Paulo


Polícia Civil prende suspeito de matar mulheres em Goiânia

Um vigilante de 26 anos foi preso na noite de terça-feira (14), em Goiânia, sob suspeita de assassinar uma série de mulheres na cidade desde o início do ano.

Desde janeiro, ao menos 15 vítimas, com idades entre 13 e 29 anos, foram mortas a tiros por um motociclista, com rosto coberto por capacete, que em geral nada roubou.

Segundo a polícia, Tiago Henrique Gomes da Rocha admitiu 39 homicídios no total, incluindo os de oito moradores de rua em 2013, em outra série de crimes que teve repercussão na capital goiana.

Rocha era investigado havia cerca de um mês. Os delegados que tomaram o depoimento dele afirmaram sentir frieza em suas declarações sobre os motivos do crime. Ele relatou prazer e alívio de sua angústia ao matar suas vítimas, segundo a polícia.

"Ele disse que sentia raiva e matava, que só saciava a raiva matando. Depois tinha remorso, que se transformava em raiva e matava, como em um ciclo", disse o delegado Murilo Polati Rechinelli, chefe do setor de homicídios.

Segundo o advogado de Rocha, Thiago Huascar Santana Vidal, seu cliente negou todos os crimes e disse que ficou com medo ao ser interrogado por diversos delegados. "Ele disse que foi falando o que os delegados queriam ouvir. Para mim, só admitiu alguns roubos." Vidal disse ainda que Rocha trabalha há vários anos na mesma empresa de segurança.

Já segundo a polícia, o único homicídio entre as 15 mulheres que o suspeito não admite ter praticado é o de Danielly Garmus da Silva, 27. Ela morreu em 16 de junho, junto com outras duas pessoas. O homem também negou ter baleado Daiane Ferreira de Morais, 18. Ela foi atingida no dia 25 de julho, mas sobreviveu.

Ainda segundo a polícia, o suspeito confessou ter matado também Arlete dos Anjos Carvalho, 16. Ela foi assassinada por um motociclista em janeiro, mas o crime não havia sido incluído no rol de investigados pela força-tarefa da polícia.

Rocha também confessou, de acordo com a polícia, a morte de Mauro Ferreira Nunes. A vítima foi morta por um homem em uma moto preta em março.

O vigilante foi preso ao ser abordado na rua guiando uma moto. Na casa dele, além do revólver calibre 38, a polícia apreendeu duas placas que aparentavam ser furtadas e uma capa de tanque de moto na cor vermelha.

A polícia, que antes havia descartado a possibilidade de se tratar de um "serial killer" em uma tentativa de não espalhar pânico, informou nesta quarta-feira (15) que o homem é, sim, um assassino em série, pela semelhança entre os crimes. Delegados envolvidos na investigação definiriam o vigilante como um "psicopata".

Rocha já tinha um mandado de prisão expedido contra ele. De acordo com a polícia, câmeras de segurança de um supermercado flagraram Rocha trocando a placa da moto.

O homem é branco e tem cerca de 1,80 m, características em parte semelhantes ao retrato falado do suposto assassino em série de mulheres.

COMOÇÃO

O assassinato das jovens causou indignação em todo o Estado, principalmente pela demora na apresentação dos possíveis autores dos crimes.

Reportagem da Folha do mês passado apontou que, após oito meses da morte da primeira vítima, Bárbara, de 14 anos, nenhum crime ainda havia sido esclarecido.

O tema foi alçado à campanha eleitoral. Adversários do governador Marconi Perillo (PSDB), que tenta a reeleição, exibiram depoimentos de pai das vítimas para criticar a segurança em Goiás.

A polícia apontou alguns motivos para justificar a dificuldade de elucidar os casos, como o fato de o homicida estar sempre com o rosto coberto, poucas imagens de câmeras terem flagrado os assassinatos e a quase ausência de testemunhas em alguns casos.

Diante da pressão popular, e com a 15ª morte, em agosto, a Secretaria de Estado da Segurança Pública anunciou naquele mês a criação de uma força-tarefa de delegados para acelerar as investigações.

OUTRO CRIME

Rocha tem passagem pela polícia por furto de uma placa de motocicleta, no ano passado, conforme flagraram câmeras do estacionamento de um supermercado. O material serviu de subsídio para a prisão do vigilante.

Na tarde desta quarta, o governador Marconi Perillo (PSDB), que tenta a reeleição, chegou a dizer durante um bate-papo com internautas, na campanha eleitoral, que os assassinatos em série de mulheres haviam cessado desde que o Estado montou uma força-tarefa de delegados, em agosto, após a 15ª morte.

Mas uma nova tentativa de homicídio, nos mesmos moldes, ocorreu recentemente. No domingo (12), uma mulher de 25 anos estava em uma praça no Jardim América no fim da tarde quando foi abordada por um motociclista. Segundo a polícia, ele tentou fazer disparos, mas a arma falhou. Mesmo assim, o homem chutou a boca da vítima, que foi socorrida e levada a um pronto-socorro.

A polícia deve tomar novo depoimento de Rocha para verificar se ele tem envolvimento no caso.


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