Folha de S. Paulo


'Não tenho dúvida de sua inocência', diz a mulher de Roger Abdelmassih

A ex-procuradora Larissa Sacco, 37, é casada com Roger Abdelmassih desde 2010, época em que o então médico, referência em reprodução assistida no Brasil, já havia sido condenado a 278 anos de prisão por 48 crimes sexuais contra 37 mulheres.

Nos últimos três anos e meio, ela morou com o marido em Assunção, no Paraguai, para onde eles fugiram com os dois filhos gêmeos.

Na entrevista a seguir, ela conta como foi a fuga para o país vizinho, a relação com Abdelmassih e como está lidando com a prisão dele, que está em Tremembé (SP).

Danilo Verpa/Folhapress
Larissa Abdelmassih, 37, em São Paulo
Larissa Abdelmassih, 37, em São Paulo

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Folha - O que você viu em Roger Abdelmassih? O que ele fez para conquistá-la?
Larissa Sacco Abdelmassih - O jeito dele. A forma como ele conduzia a vida dele. A forma como encara os problemas...

Em 2005, quando fez um tratamento de inseminação artificial com Abdelmassih, sofreu algum tipo de assédio?
Não. Comigo não. Posso dizer por mim. A única coisa que posso dizer é que muito casais levam seus problemas a ele. Quem está tendo filho tem muito problema com o marido em determinado momento e levam esse problema para ele. Ele sempre falava: "Você tem que dar mais atenção para sua mulher".

Dizem que eu o amo cegamente, por isso eu o defendo. Mas o amor para mim veio depois da admiração.

Vocês se casaram em fevereiro de 2010. Como foi a reação da família e dos amigos?
Eu não nunca cheguei e disse que iria casar com ele. Eu casei. Pronto. Nunca dei explicação: vou fazer isso, fazer aquilo.

E a família dele?
Ele tem cinco filhos. Três não são dele, de sangue. Eu posso dizer que eu nunca vi um pai dar tanto carinho, proteção, em todos os sentidos, material, emocional. Deu até quando não dava mais, porque a clínica fechou.

Não sei se eles acham que, porque eu entrei na vida do Roger ele parou de ajudá-los, financeiramente. Talvez se sintam abandonados, mas a verdade é que não tinha mais dinheiro. Os dois mais velhos, principalmente, foram tomados por uma ira irracional.

E seus filhos? Ele fez tratamento em você?
Foi por fertilização in vitro.

Com outro profissional?
Sim. Outro profissional.

Por que tantas mulheres acusaram seu marido?
Por que você não pergunta para elas por que voltaram [à clínica]? Eu não voltaria. Jamais voltaria.

Você já pensou que uma delas pode estar falando a verdade?
Não. Se pensasse, não estaria com ele.

Você já o questionou?
Várias vezes. Eu sei como ele é –uma pessoa de querer conquistar. Ele não é de querer pegar a pessoa à força. Jamais. A índole dele é da conquista, seja da mulher, seja do amigo. Ele é uma pessoa de cativar, não é de atacar.

Em áudios divulgados agora Roger se dizia "comedor"...
Santo ele pode não ser. Mas isso é uma coisa que vai ver com Deus. Santo ele pode não ser, eu posso não ser, você pode não ser. Agora, crime é uma coisa muito diferente.

Nessas gravações ele admite que teve casos com pacientes...
Isso é crime?

É nesse sentido que você fala que ele não é santo?
Exatamente. Eu não sei se essas mulheres tiveram alguma coisa com ele, consensualmente. Estupro não teve. E se elas tiveram alguma coisa e foram descartadas, pode ser justificativa de tamanha raiva. Porque agora elas têm uma obsessão inclusive contra mim e meus filhos. Ficam chamando meus filhos de monstrinhos. Uma pessoa em sã consciência vai viver o Roger cedo, à tarde e à noite? Porque é o que elas fazem.

Roger disse que a ideia de fugir [em 2011] foi sua.
Foi e não foi. Naquele dia, ele tinha pedido aquele bendito e maldito passaporte. Nós nem estávamos preocupados com isso. Estávamos indo para fazenda em Avaré.

Você já estava grávida?
Lembro que tinha feito exame de sangue havia uns dois dias. Na estrada, ficamos sabendo que havia sido decretada a prisão. No meio do caminho viramos o carro. Fomos andando e paramos no Paraguai. Não tinha nem roupa, apenas uma malinha.

Por que o Paraguai?
Proximidade. Não tínhamos estrutura para ir para outro lugar. Inclusive dinheiro. E como passamos pela fronteira? Passando. Ninguém nos abordou. Passamos pela Ponte da Amizade. Fomos num Gol. Apertadinhos. Para não chamar a atenção.

Pensaram em ir para Europa?
Ele sempre acalentava a vontade de ir para o Líbano. Mas nunca teve nacionalidade libanesa, como dizem. Também não tínhamos dinheiro. Seria preciso um avião.

Como é a sensação de ser uma foragida'. Tinha muita tensão de estar sendo vigiada?
Eu era um pouco mais tranquila. O Roger tinha medo.

Como ele conseguiu documento falso?
Não sei como foi, só sei que chegou lá com isso. Lá é muito fácil [conseguir documentos falsos]. Não tive porque não quis. Eu dizia: um dos dois tem que estar na linha.

Vocês se arrependeram de ter fugido?
Hoje, ele diz que não teria fugido. Ele diz: "Aqui dentro [da prisão] não tenho aquele medo, aquela angústia que eu tinha. Se tivesse enfrentado tudo, talvez já pudesse ter saído. Não teria passado aquele medo".

Você conversavam sobre a possibilidade de serem presos?
O Roger dizia que, se um dia eles o pegassem, ele se mataria. Havia comprado uma arma que ficava numa gaveta trancada. Cada vez que ele escutava um barulho diferente, ele pegava essa arma. Ele vivia num constate medo, agonia. A conversa sobre morte era muito recorrente. Ele dizia: "Para libertar você e as crianças".


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