Folha de S. Paulo


Falta de água atinge até 50% da população de Campinas

Campinas (a 93 km de SP) enfrenta neste final de semana um cenário de falta de água que pode ter atingido metade da população entre o fim da tarde desta sexta (10) e sábado (11).

A escassez deve ainda afetar cerca de 20% dos moradores entre hoje e domingo (12).

A informação foi confirmada pela Sanasa, empresa mista de água e esgoto da cidade de 1,1 milhão de habitantes no interior do Estado. As regiões mais prejudicadas são as partes mais altas e afastadas do centro, bem como residências com pouca capacidade de armazenar água.

"Está faltando [água] em alguns bairros, principalmente nas partes mais altas", afirmou Marco Antônio dos Santos, diretor técnico da Sanasa. "Quem tem reserva praticamente não sentiu, mas quem não tem sofreu. Pedimos a compreensão das pessoas. A recomendação é que usem a água para atividades estritamente necessárias. E só."

Segundo o diretor, a escassez ocorre pela queda da qualidade da água na captação.

"Ontem [10], no final da tarde, tivemos de parar a captação no rio Atibaia por causa da qualidade da água", diz Santos. "Diminuímos para 40% a captação. Hoje [11] pela manhã a água estava melhor e conseguimos aumentar para 70%. Mas a situação no rio Capivari piorou, e lá tivemos de reduzir a captação para 50%."

A Sanasa retira água dos dois rios para abastecer a população (o Atibaia é responsável por 93% da cidade e o Capivari, por 7%).

Como os reservatórios da empresa são capazes de manter a cidade abastecida por apenas seis horas, se a vazão dos rios está muito baixa –e a qualidade da água, muito ruim–, o fornecimento é afetado.

16 HORAS SEM ÁGUA

"Cheguei em casa por volta das 18h ontem [10] e já não tinha mais água", disse Cecílio Serafim dos Santos, 42, técnico em ambiente que mora na região do Campo Grande. "Foi voltar só hoje, por volta das 10h30. Há mais ou menos uma semana faltou também, mas eles nunca avisam antes."

Cecílio diz que tentou ligar no 0800 da Sanasa para reclamar, mas não conseguiu. "[A gravação] dizia que todos os atendentes estavam ocupados. É complicado porque a gente fica sem informação. É uma falta de respeito muito grande, a gente paga pela água."

A situação deve melhorar nas próximas horas, segundo o diretor técnico da Sanasa. "Já está melhorando a qualidade da água do rio, então pode ser que durante a madrugada a gente consiga chegar a 100% da captação de novo. O que a Sanasa não vai fazer é mandar água sem qualidade para as pessoas."

SISTEMA CANTAREIRA

A baixa vazão dos rios da região fez com que a ANA (agência federal de águas) e o Daee (departamento estadual de águas e energia elétrica) aumentassem ontem a liberação de água do sistema Cantareira para o interior de 4 m³/s para 5 m³/s. Na semana passada, já havia sido autorizada uma alta de 3 m³/s para 4 m³/s, mas a quantidade não foi suficiente.

É a segunda vez neste ano que a vazão para o interior chega a 5 m³/s –a primeira foi em meados de setembro, mas a vazão foi reduzida dias depois para 1,5m³/s por ter chovido na região. Devido à baixa velocidade do rio, a Sanasa estima que a água adicional demore de sete a dez dias para chegar na cidade.

O sistema Cantareira, formado pelo represamento dos rios que formam o Piracicaba antes de eles chegarem na região de Campinas, abastece diretamente 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo (antes da crise eram 8,8 milhões), para onde estão sendo enviados 19,7 m³/s de água, e indiretamente 5,5 milhões no interior, para onde estão sendo enviados 5 m³/s desde ontem.

Para reduzir a dependência direta da vazão dos rios e da qualidade da água, a Sanasa está ampliando a capacidade dos seus reservatórios e publicou nesta semana um chamado para que a iniciativa privada apresente projetos para a construção uma represa de grande porte na cidade.

Com um consumo diário de quase 300 milhões de litros de água, Campinas tenta se preparar melhor para enfrentar graves períodos de estiagem, como o atual.


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