Folha de S. Paulo


Fim do 'minhocão' do Rio ilumina área, mas não traz prédios

A vida mansa do Elevado da Perimetral, viaduto que ligava o aterro do Flamengo à avenida Brasil, durou apenas uma década. Dez anos após a construção ter sido concluída, na década de 1970, a Prefeitura do Rio já falava sobre sua demolição.

Apontado como causa da degradação da região portuária (centro), o elevado começou a ter sua derrubada discutida mais sistematicamente a partir de 1985, quando foi formado um grupo de trabalho para debater a revitalização de seu entorno.

Três décadas depois, a demolição, que começou em novembro do ano passado, será concluída com queixas sobre falta de debate público e como símbolo de um projeto que ainda precisa de ajustes, o Porto Maravilha.

São Paulo passa agora por um processo parecido com seu elevado, o Minhocão, que faz a ligação entre o leste e o oeste da cidade.

Sua demolição é cogitada pela prefeitura há alguns anos. Mas em agosto a desativação progressiva da via tomou forma de lei ao ser incorporada ao novo Plano Diretor paulistano. Agora o debate gira em torno de sua demolição ou transformação em parque.

PORTO MARAVILHA

A demolição do viaduto da Perimetral é a principal marca do Porto Maravilha, pacote de obras e serviços em toda a região portuária do Rio, que somam investimentos de R$ 8,5 bilhões em 15 anos.

A prefeitura financiou toda a obra -inclusive o fim da Perimetral- por meio da venda de títulos imobiliários que permitem aos empreendedores a construção de arranha-céus no bairro.

Do ponto de vista urbanístico, o viaduto será substituído por um grande bulevar de 212 mil m², desde o Armazém 8 até a Praça 15. No sistema viário, ficará em seu lugar um túnel de três quilômetros de extensão, com capacidade de fluxo 40% maior do que a do antigo elevado.

Além da questão arquitetônica, a demolição da Perimetral também foi feita para valorizar a área e atrair os investimentos imobiliários que financiam as obras.

Com mais de 70% do elevado já no chão, o fim da Perimetral tira da sombra uma vasta área próxima ao porto, permitindo a iluminação natural e revelando diversos prédios históricos antes na sombra, como o Palacete D. João 6º. O edifício abriga atualmente parte do MAR (Museu de Arte do Rio).

Os objetivos do projeto anunciado vão, no entanto, além da revelação desses edifícios antigos.

PRÉDIOS RESIDENCIAIS

Parte essencial do que a prefeitura considera revitalização, o surgimento de imóveis residenciais ainda é tímido. O plano do município é aumentar o número de moradores da área de 23 mil, em 2009, para 100 mil até 2025. Mas, até o momento, apenas um edifício residencial feito pela iniciativa privada foi licenciado para o local.

Ao fechar o projeto, o município não fez um zoneamento da área (definindo onde ficariam prédios residenciais e comerciais). Acreditava que o mercado se diversificaria sozinho.

Daniel Marenco/Folhapress
Ciclista pedala em frente a obras de demolição da Perimetral, no Rio, perto de armazém do cais
Ciclista pedala em frente a obras de demolição da Perimetral, no Rio, perto de armazém do cais

Após comprovado o insucesso, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) decidiu ampliar os benefícios fiscais para imóveis residenciais. A medida, porém, ainda não surtiu o efeito desejado.

Quanto à questão da mobilidade, o sumiço de um viaduto geralmente é comemorado por defensores do transporte público, pois tira o protagonismo dos veículos individuais. Mas a ampliação da capacidade de fluxo de carros pelo túnel é alvo de críticas de entidades especializadas no tema, como o ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento).

Até o fim das obras, no primeiro semestre de 2016, os cariocas conviverão com engarrafamentos no centro que se espalham por bairros próximos. A prefeitura promete que vai valer a pena.


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