Folha de S. Paulo


Incêndio destrói parte de favela na zona sul de São Paulo

Um incêndio de grandes proporções destruiu na noite de domingo (7) parte da favela Buraco Quente, localizada na avenida Jornalista Roberto Marinho, na região de Campo Belo, zona sul de São Paulo.

Um homem que teve o pé queimado e uma mulher que inalou fumaça foram levados a hospitais da região. Outras três pessoas se feriram tentando salvar móveis e foram atendidas no local.

O fogo começou por volta das 21h e se espalhou rapidamente pela favela. Trinta e sete equipes do Corpo de Bombeiros, totalizando 99 homens, trabalharam no combate ao incêndio, que foi controlado por volta da 0h desta segunda-feira (8).

Segundo o Major Marco Antonio Basso, do Corpo dos Bombeiros, os corredores estreitos da favela e a maioria das moradias de madeira foram os principais problemas enfrentados pelos bombeiros para combater o fogo. Um hidrante também apresentou problema, de acordo com Basso.

Para combater o fogo os bombeiros também puderam contar com a ajuda de prédios vizinhos que cederam a água da reserva técnica das caixas d' águas. " Foram utilizadas essas reservas de água porque os prédios eram bem próximos da favela", explica o major.

Os bombeiros continuam no local fazendo o trabalho de rescaldo para evitar o surgimento de novos focos de fogo. As causas do incêndio serão investigadas, segundo os bombeiros. Por volta das 10h desta segunda, duas faixas da avenida Jornalista Roberto Marinho estavam interditadas no sentido marginal Pinheiros. Já a rua Cristovão Pereira está interditada totalmente. A recomendação é que os motoristas evitem trafegar pela região.

Policiais da Tropa de Choque da PM também foram enviados ao local por segurança, mas não houve confronto com os moradores. Após os policiais do Choque deixarem a região, alguns moradores retiraram tábuas de uma obra do monotrilho, próxima da favela, para refazer os barracos destruídos.

DESABRIGADOS

A Defesa Civil cadastrou 320 famílias -cerca de 1.000 pessoas- que tiveram os barracos destruídos pelo fogo. Segundo Milton Persoli, coordenador da Defesa Civil do Estado, o número de desabrigados pode aumentar porque muitas pessoas foram para casas de parentes e amigos. O órgão estima que cerca de 600 barracos foram destruídos pelo fogo.

Durante a madrugada, foram distribuídas cestas básicas, kits de higiene, colchões e cobertores para as famílias cadastradas. Também foram montados dois abrigos -em uma igreja evangélica e um centro de convivência- e oferecidos dois albergues da prefeitura para acolher os desabrigados. Os albergues foram recusados pelas famílias, de acordo com o órgão.

A desempregada Fabiana Viana Moraes, 31, é uma moradoras que perdeu o barraco no incêndio. Ela voltava do supermercado com o marido e a filha de seis meses quando ficou sabendo do incêndio.

Por volta das 2h desta segunda-feira, Fabiana ainda aguardava a Defesa Civil sentada em um colchão colocado calçada junto a eletrodomésticos que conseguiu salvar. "Uma grande parte ajuda o outro, mas tenho medo daqueles que querem saquear", disse Fabiana.

Moradora há 11 anos na favela, a auxiliar de limpeza Francisca Giane Gonçalves de Sampaio, 29, disse que já passou por outros três incêndios na favela. "Este foi o pior incêndio, eu perdi quase tudo", disse Francisca.

A auxiliar de limpeza disse que estava dentro do ônibus voltando da igreja quando soube do incêndio. Com a ajuda do irmão e de vizinhos ela arrombou a porta de casa e retirou documentos, um colchão, a televisão e as roupas da filha de três anos. "Muita gente ajudou", disse.

Apesar de ter perdido quase tudo no incêndio, o que a auxiliar de limpeza mais lamentava é que teria que usar o dinheiro que estava guardando para fazer a festa de aniversário de quatro anos da filha, que ocorreria em outubro. "O dinheiro disso vai construir tudo", falou olhando com tristeza para a filha.

DESESPERO

Em entrevista à Folha, a contadora Fabiane Siqueira, 40, que mora na região, afirmou que prédios localizados no entorno da favela foram esvaziados.

"O fogo estava bastante alto e bem próximo dos prédios. Muita gente teve que sair temendo que o fogo chegasse", disse a moradora.

Siqueira ainda relatou que presenciou "muita gente desesperada, sem saber o que fazia."

Moradores da favela foram parar nas ruas da região.

Nos primeiros minutos do incêndio, alguns moradores ainda tentavam, de forma desesperada, apagar as chamas com baldes e mangueiras.

A favela atingida pelo incêndio está localizada nas proximidades das obras do monotrilho.

AEROPORTO DE CONGONHAS

O incêndio não afetou as operações do aeroporto de Congonhas, localizado bem próximo à comunidade afetada pelo fogo.

De acordo com a Infraero, apesar de as chamas alcançarem uma elevada extensão, o aeroporto operou normalmente, até as 23h.


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