Folha de S. Paulo


'Pensei que era um prédio desabando', diz morador sobre vendaval no Rio

O clima ainda era de tensão por volta das 10h desta quarta-feira após um vendaval de até 97 km/h atingir bairros da orla do Rio. Na Lagoa, zona sul, árvores centenárias foram arrancadas com a força do vento, carros atingidos por troncos e telhados arremessados em prédios vizinhos.

"Foi assustador. Pensei que era um edifício desabando. Parecia até um daqueles filmes com tornado", disse Sérgio de Lima Tavares, 45, porteiro de um prédio da rua Almirante Saddock de Sá, em Ipanema, próximo à Lagoa.

Tavares contou que por volta das 6h50 o vento ganhou mais velocidade e moradores chegaram a descer à portaria com medo. "Muitas pessoas vieram falar comigo chorando e tremendo sem saber o que estava acontecendo. Era um barulho muito forte", afirmou.

O auxiliar administrativo Romualdo Medeiros, 30, levava a chefe de cozinha Flávia Quaresma ao aeroporto quando foi surpreendido com a queda de uma árvore centenária. "A sorte foi que a gente viu o momento exato que ela estava caindo. Engatei logo a marcha ré e o tronco atingiu o parabrisa. Por pouco não estaria aqui pra contar isso", afirmou.

O acidente aconteceu na avenida Borges de Medeiros, sentido Túnel Rebouças (centro/zona norte). Medeiros registrou o caso na 15a DP (Gávea). A Folha procurou Flávia Quaresma, mas ela já havia embarcado no avião em viagem a trabalho no sul.

Impressionados, moradores fotografavam o rastro de destruição da ventania. "Moro aqui há 50 anos e nunca vi um vento tão forte", disse a bióloga Márcia Bezerra, 53.

Entre a avenida Epitácio Pessoa e a rua Maria Quitéria, um pinheiro foi arrancado pelo vento e tombou sobre uma obra. Vidraças foram estilhaçadas e protetores de aparelhos de ar-condicionado foram parar no meio da rua.

De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura, não houve registro de feridos. Pelo menos sete ruas foram interditadas na cidade - por causa de quedas de árvores. Outras dez vias tiveram interdições parciais. Até o início da tarde, apenas a rua Domingos Ferreira, entre as ruas Santa Clara e Figueiredo de Magalhães, em Copacabana, e a rua Benjamin Batista, no Jardim Botânico, zona sul, continuavam interditadas.

FALTA DE LUZ

Pela manhã a Light (concessionária de energia) restabeleceu o fornecimento de luz para o trecho próximo a rua Sambaíba, no Leblon, zona sul, após a retirada de galhos da rede elétrica.

Em nota, a companhia informou que segue trabalhando após interrupção numa área de Jacarepaguá, zona oeste, pelo mesmo problema. Um trecho da rua Benjamin Batista, no Jardim Botânico, zona sul, também continua sem energia – por conta da queda de uma árvore centenária sobre a fiação.

PREVISÃO

Segundo o Inmet (Instituto de Meteorologia), uma área de instabilidade que veio do Sul do país chegou ao Rio na madrugada desta quarta trazendo a ventania de até 97 km/h.

Às 6h, houve registro de ventos de até 86 km/h na estação meteorológica de Marambaia, na zona oeste do Rio. Uma hora depois, registrou-se vento de 97 km/h no Forte de Copacabana (zona sul). Uma árvore caiu e bloqueou a rua Tonelero, no mesmo bairro. Também havia registro de queda de árvores em Botafogo, na rua Mena Barreto e na Barra da Tijuca (zona oeste).

A área de instabilidade deixará o tempo instável nesta quarta no Rio. A previsão do Inmet é de pancadas de chuva no período da manhã e rajadas de vento moderado, ocasionalmente forte nas próximas 24 horas. As temperaturas ficarão estáveis, com mínima de 16°C e máxima de 33°C.

ESTRAGOS EM SP E PR

No Paraná, os prejuízos por conta do vendaval também foram grandes. Quase 10 mil pessoas foram afetadas pela chuva que atingiu o Paraná na terça-feira (2), de acordo com balanço divulgado pela Defesa Civil do Estado.

O levamento do órgão também mostrou que ao menos 2.642 casas foram danificadas pelo temporal, mas não houve feridos.

O vendaval também atingiu a capital e o interior de São Paulo provocando estragos. A rodovia Anchieta chegou a a ser interditada por conta de tombamento de árvores. A via foi liberada ainda no início da manhã desta quarta.

Na capital, vários semáforos ficaram com problemas e o trânsito ficou acima da média no início da manhã. Já no interior, um ultraleve e árvores tombaram em Presidente Prudente. Ninguém ficou ferido.

Em Campinas (a 93 km de SP), terceira maior cidade do Estado, o temporal que ocorreu na noite desta terça (2) causou queda de árvores, problemas em semáforos e falta de luz em diversos bairros e municípios da região. Os ventos chegaram a 126 km/h e 280 mil ficaram sem energia elétrica.

As chuvas também provocaram estragos em Bauru, Jaú, Campinas e Araçatuba. Em Jaú (a 287 km de SP), o temporal e a ventania destruíram o prédio de uma empresa de embalagens. Segundo o Corpo de Bombeiros, o vento arrancou todas as telhas do local e parte das paredes caíram. Não havia funcionários na fábrica na hora da tempestade.

Em Bauru (a 328 km da capital), o temporal durou cerca de 20 minutos e arrancou placas de aço da fachada de um prédio, que caíram sobre residências.


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