Folha de S. Paulo


Discreto, ex-médico tinha chofer e ia a restaurante VIP no Paraguai

O ex-médico Roger Abdelmassih, 70, vivia em uma mansão no bairro de San Cristóbal, um dos três mais caros de Assunção, havia entre dois e três anos, segundo vizinhos. Acostumado a caminhar pelas ruas do bairro, cumprimentava os moradores do entorno, que se disseram surpresos com sua prisão.

"Ele era discreto e silencioso. Cumprimentava quando passava, e tinha uma boa vida", disse o técnico de informática Júlio Torales, 29, que mora na casa ao lado há cinco anos. "Moravam aí tinha uns dois ou três anos", afirmou.

Outro vizinho, que não quis se identificar, disse que nunca viu o ex-médico, apenas o chofer da família, e confirmou que a casa estava ocupada havia dois ou três anos. Segundo a imobiliária Saturno, o aluguel mensal da casa de luxo é de U$ 5.000. A imobiliária afirma que Abdelmassih deixou dívidas, mesmo não informando os valores.

As autoridades paraguaias e brasileiras ainda não sabem afirmar há quanto tempo Abdelmassih entrou no país, nem como ele chegou –se foi por terra ou de avião.

Os filhos do ex-médico, um menino e uma menina de três anos, estudavam no colégio maternal Maria's Preschool, na mesma rua da casa, a calle Guido Spano, a quatro quadras de distância da residência.

Os carros da família eram uma Mercedes E350 ano 2012 –avaliada por um investigador paraguaio em cerca de US$ 60 mil– e um Kia Carnival ano 2012, que era usado para transportar as crianças.

A Mercedes está registrada em nome de uma pessoa física –que pode ter vendido o carro, sem que o médico fizesse a transferência para seu nome. Já o Kia está em nome de uma empresa, que está sendo investigada pelas autoridades locais.

NOME FALSO

Segundo a mãe de um colega de classe dos filhos de Abdelmassih, que não quis ter o nome divulgado, as crianças costumavam ir à escola com a babá. Ainda segundo essa mãe, que também é moradora do bairro, Abdelmassih se apresentava na escola com o nome de Ricardo Galeano. Já a mulher dele, Larissa Sacco, usava o nome verdadeiro.

A Folha apurou junto a autoridades locais que há suspeitas de que Abdelmassih tenha pagado para obter documento falso em nome de Ricardo Galeano. As conexões do ex-médico com pessoas influentes na sociedade paraguaia –entre políticos e empresários– estão sendo investigadas.

O pernambucano Aldemir Cavalcanti, 30, que estuda medicina em Assunção e mora a três quadras da mansão de Abdelmassih, afirmou que nunca viu o foragido nas redondezas, e definiu assim a situação: "Espanto total."

Cavalcanti, que descobriu nesta terça (19) que seu filho de três anos era colega de sala do filho de Abdelmassih, disse que as mensalidades no Maria's Preschool custam cerca de R$ 400 –valor que, de acordo com ele, é alto para os padrões da cidade.

Segundo o ministro Luis Rojas, da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), que efetuou a prisão do ex-médico em parceria com a Polícia Federal brasileira, Roger saía pouco e evitava locais frequentados por brasileiros, como churrascarias.

"De vez em quando ele saía para caminhar num parque próximo de sua casa. Nos fins de semana, ia com a esposa comer em locais exclusivos de Assunção", disse.

A Folha apurou que um dos restaurantes preferidos de Abdelmassih era o San Pietro –considerado um dos mais caros da cidade.

As investigações da Senad duraram apenas duas semanas –desde que a Polícia Federal pediu ajuda para localizar o foragido na capital paraguaia.

A estratégia foi deportar Abdelmassih imediatamente com base na lei de imigração, devido à falta de documentos no momento em que foi capturado. "Tive ordem do presidente para não deixar criminosos ficarem no país", afirmou Rojas.


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