Folha de S. Paulo


Tratamento com Abdelmassih atraía artistas, empresários e políticos

Por quase 20 anos, Roger Abdelmassih reinou no mundo da reprodução assistida no Brasil.

Pelo seu luxuoso centro, instalado na avenida Brasil, zona sul de São Paulo, desfilavam artistas, políticos e empresários de todo o país.

Entre os seus clientes famosos estavam o ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB), o ex-jogador Pelé, o humorista Tom Cavalcanti, o senador Renan Calheiros (PMDB), o apresentador de televisão Gugu Liberato e a atriz Luiza Tomé.

De família de imigrantes libaneses pobres, Abdelmassih nasceu em São João da Boa Vista, interior paulista.

Caçula de três irmãos, formou-se na Unicamp em 1968, fez especialização em urologia e trabalhou com o médico Milton Nakamura, responsável pelo nascimento do primeiro bebê de proveta no país, em 1984.

EFEITO PELÉ

Dos cinco filhos, três eram do primeiro casamento da sua mulher Sônia, morta em 2008 em consequência de um câncer de mama.

A projeção nacional e internacional veio a partir de 1996, quando o casal Pelé e Assíria passou por tratamento na clínica e ela engravidou dos gêmeos Celeste e Joshua.

A partir dali, aconteceu o que Abdelmassih chamava de "efeito Pelé".

A clínica passou a ser palco de uma verdadeira romaria de casais com dificuldade de gravidez que chegaram a pagar, em 2008, R$ 38 mil por um pacote de três tentativas de fertilização in vitro. Sem modéstia, o ex-médico se autonomeava "Doutor Vida".

Editoria de arte/Folhapress

Naquele ano, suas estatísticas mostravam índices de sucesso de mais de 50% dos tratamentos, quando a média na literatura internacional não passava de 30%.

Nas entrevistas, o ex-médico atribuía as impressionantes marcas a um investimento anual de US$ 1 milhão em pesquisas científicas.

Uma década depois, porém, investigações apontaram que ele adotara procedimentos ilegais em seus processos de fertilização.

Exames de DNA feitos em pacientes da clínica e em seus filhos mostram que o médico implantava no útero da futura mãe, sem o conhecimento do casal, embriões formados a partir de óvulos e espermatozoides de outras pessoas.

Pelo menos três casais (de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo) procuraram o Ministério Público após sua prisão para relatar que o DNA de um dos dois não era compatível com o do filho.

Muito antes das denúncias que levaram à sua prisão e posterior condenação pela Justiça, era comum histórias de abuso sexual envolvendo o nome de Abdelmassih nas rodas de médicos da área.

O próprio Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) recebeu, até 2007, 14 denúncias contra ele, a maioria delas arquivada por falta de provas.


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