Folha de S. Paulo


Ex-médico Roger Abdelmassih é preso no Paraguai após três anos foragido

O ex-médico Roger Abdelmassih, 70, condenado em primeira instância a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres, foi preso na tarde desta terça-feira (19) em Assunção, capital do Paraguai.

Antes conhecido como "médico das estrelas", por ser um dos principais especialistas em reprodução assistida do país, ele estava foragido desde 6 janeiro de 2011, quando a Justiça decretou nova prisão.

Abdelmassih foi preso numa operação conjunta da polícia do Paraguai e da Polícia Federal brasileira.

Ele não ofereceu resistência, segundo o delegado federal Marco Paulo Pimentel, mas ficou muito nervoso ao receber a voz de prisão, quando saía da escola dos filhos acompanhado da mulher, a ex-procuradora Larissa Maria Sacco.

Secretaria Nacional de Antidrogas do Paraguai/Divulgação
Ex-médico Roger Abdelmassih é preso no Paraguai após três anos foragido
Ex-médico Roger Abdelmassih é preso no Paraguai após três anos foragido

O ex-médico não usava disfarce. A única diferença da imagem conhecida era um boné e a falta do bigode. Ele chegou à Foz do Iguaçu (PR) nesta terça e sua chegada a São Paulo está prevista para as 13h desta quarta (20).

De acordo com o promotor Luiz Henrique Dal Poz, os investigadores descobriram o esconderijo do ex-médico após apurar suposta lavagem de dinheiro de um grupo que, segundo ele, formava uma "rede de favorecimento à fuga".

O Ministério Público não informou quem são essas pessoas nem quantas elas são.

A investigação, segundo a Promotoria, foi iniciada após a descoberta há três meses de uma fazenda em Avaré (SP) onde havia documentos ligados ao ex-médico. As informações da investigação, após compartilhadas com a PF, levaram à localização de Abdelmassih.

Os advogados dele, Márcio Thomaz Bastos e José Luis Oliveira Lima, divulgaram nota à noite informando que não comentariam a prisão (leia nesta pág.).

As suspeitas de crimes sexuais contra médico foram reveladas pela Folha em janeiro de 2009. Após a publicação da reportagem, uma série de outras vítimas procurou o Ministério Público.

Após investigação da Promotoria, Abdelmassih foi denunciado por 56 ataques a 39 mulheres. Chegou a ficar preso de agosto e dezembro de 2009, mas conseguiu do Supremo o direito de responder o processo em liberdade.

A condenação ocorreu em novembro de 2010. Para parte dos ataques, a Justiça considerou não haver provas. A sentença considerou 48 ataques contra 37 mulheres, consumados ou não, de 1995 a 2008.

Abdelmassih fugiu em janeiro de 2011 ao ser decretada sua prisão após ter solicitado a renovação do passaporte –para a polícia, era um indício de que pretendia fugir.

FAMA

O ex-médico Roger Abdelmassih era um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida do país.

O caso foi denunciado pela primeira vez ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do ex-médico, e revelado pela Folha em janeiro de 2009.

Editoria de Arte/Folhapress

Depois, diversas pacientes com idades entre 30 e 40 anos bem-sucedidas profissionalmente disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica de Abdelmassih.

As mulheres dizem ter sido surpreendidas por investidas do ex-médico quando estavam sozinhas —sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ter sido molestadas após sedação.

Formalmente, Abdelmassih foi acusado de estupro contra 39 ex-pacientes, mas como algumas relataram mais de um crime, há 56 acusações contra ele. Desde que foi acusado pela primeira vez, Abdelmassih negou por diversas vezes ter praticado crimes sexuais contra ex-pacientes. O ex-médico afirma que foi atacado por um "movimento de ressentimentos vingativos".

Abdelmassih também já chegou a afirmar que as mulheres que o acusam podem ter sofrido alucinações provocadas pelo anestésico propofol.


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