Folha de S. Paulo


Água liberada por SP para o Rio também é usada para diluir esgoto

Parte significativa da água do rio Paraíba do Sul que percorre o Estado do Rio de Janeiro é usada para diluir esgoto e outra parcela tem uso industrial.

A água proveniente de sua bacia virou alvo de disputa entre os governos paulista e carioca.

De acordo com o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul, o engenheiro Luiz Roberto Barretti, só 45 metros cúbicos por segundo da vazão total de 119 m³/s transposta para a formação do rio Guandu rumo à região metropolitana do Rio são para consumo humano.

"A água vai pura do Paraíba, mistura com o esgoto da Baixada Fluminense, e quando é captada [pela Cedae, companhia carioca de abastecimento] a água está bastante impura", diz Barretti.

"Então, a água é usada para diluir esse esgoto e para ter uma condição melhor de tratamento", completa.

Editoria de arte/Folhapress

Segundo a pesquisadora da Unesp Dejanira de Angelis, quanto mais cidades um rio cruza, maior a poluição. "O rio Paraíba do Sul percorre 184 municípios, com atividade industrial e produção de esgotos intensa. Mesmo sendo caudaloso, é muito poluído em alguns pontos", diz.

O professor de hidrologia da Coppe-UFRJ, Jerson Kelman, afirma que a diminuição da quantidade de água enviada de São Paulo inviabilizaria o tratamento dela para o consumo humano.

"Se passar só a quantidade água que a Cedae tira do rio Guandu, a concentração de poluição seria tão forte que a água se tornaria intratável", afirma Kelman. Ele ressalta, porém, que esse problema atinge rios no país inteiro, não apenas no Rio.

O próprio Plano Estadual de Recursos Hídricos de São Paulo aponta que a bacia do Paraíba do Sul tem trechos onde a qualidade da água é crítica e falta tratamento do esgoto despejado.

Quando a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) decidiu reduzir a vazão da represa Jaguari, a água para consumo humano no Vale do Paraíba e no Rio foram ameaçados, de acordo com órgãos reguladores federais.

A água de Jaguari abastece apenas a cidade de Santa Isabel (Grande São Paulo), que tem pouco mais de 50 mil habitantes, e é usada hoje prioritariamente para a geração de energia.

Embora esteja com apenas 37,7% de sua capacidade, tem mais água armazenada do que quatro represas do sistema Cantareira juntas.

"É um conflito entre o abastecimento de uma pequena cidade e muitas cidades onde moram milhões de pessoas", diz Kelman.

Segundo dados oficiais, 15 milhões de pessoas recebem água a partir do rio Paraíba do Sul, 10 milhões delas no RJ.

Outra parte significativa da água que vai para o rio Guandu é utilizada pela indústria carioca.

A manutenção da vazão, afirmam especialistas, é importante para neutralizar o efeito da entrada da maré no rio, otimizando o uso da água pelas indústrias.


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