Folha de S. Paulo


Seca em região onde água é retida transforma reservatório em pasto

Os moradores da cidade de Redenção da Serra (a 174 km de SP), no Vale do Paraíba, têm a impressão de que voltaram no tempo, antes da criação do reservatório de Paraibuna, há cerca de 40 anos.

Há aproximadamente dois meses, o trecho da represa que corta a cidade secou. A área onde antes barcos de pesca dividiam espaço com jet skis virou pasto para vacas.

Uma antiga estrada de terra reapareceu na estiagem e voltou a ser usada por motoristas da região.

"Até maio, havia água. Houve até um campeonato de canoagem", diz o enfermeiro Benedito Ramos, 40, nascido na época em que a represa foi criada, para ajudar a resolver os problemas de enchentes na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul.

Ernesto Rodrigues/Folhapress
Represa de Paraibuna na cidade de Redenção da Serra (a 174 km de SP)
Represa de Paraibuna na cidade de Redenção da Serra (a 174 km de SP)

A seca na região virou tema de disputa entre órgãos federais e estaduais.

A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) insiste em limitar a quantidade de água enviada da represa do rio Jaguari, onde ela opera uma usina hidrelétrica, ao rio Paraíba do Sul.

O argumento do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é que o abastecimento humano tem prioridade sobre o fornecimento de energia.

Já o ONS (Operador Nacional do Sistema), que regula o setor elétrico no país, quer que a companhia aumente o envio de água da usina.

O órgão afirma que a contenção prejudica a geração de energia e pode levar a um "colapso" no abastecimento de água de cidades do Rio e do interior de São Paulo.

Principal reservatório do Vale do Paraíba, o Paraibuna está com 13,24% de sua capacidade de armazenamento.

De acordo com relatório do ONS, é um dos três reservatórios na bacia que podem secar até novembro –os outros são Santa Branca e Funil.

PREJUÍZO

Em Redenção da Serra, moradores afirmam que ainda não falta água na torneira. No entanto, dizem que o impacto econômico é grande.

"Sem os turistas, o movimento caiu pelo menos 50%", diz o comerciante Rodolfo dos Santos, 26. Ele é dono de um bar que fica próximo a uma região da represa que costumava ser frequentada por adeptos dos esportes aquáticos e pescarias.

Dono de um restaurante próximo da represa, Venâncio Antunes dos Santos Junior, 52, guarda fotos dos últimos 20 anos da represa, em tempos de muita e pouca água. Ele afirma que, no final da década de 1990, o reservatório também secou.

"Só foi encher novamente sete anos depois", afirma ele, que também tem registrado prejuízos com a estiagem. "A única solução para o problema aqui é fazer um dique para segurar a água."

Os moradores também se preocupam com a possibilidade de a secura que se vê no reservatório atualmente chegue às torneiras.

"Por enquanto, ainda não aconteceu. Mas a água que está saindo já está fazendo várias pessoas passarem mal", afirma o motorista Jaime Moreira, 58.


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