Folha de S. Paulo


Prisão de manifestante em São Paulo foi 'eleitoral', afirma advogado

O advogado de defesa do estudante e funcionário da USP Fábio Hideki Harano, 27, solto na semana passada após passar 45 dias em um presídio, disse na tarde desta quarta-feira (13) que a prisão de seu cliente foi "eleitoral".

Harano foi preso após um protesto contra a Copa no centro de São Paulo, em 23 de junho, na escadaria de uma estação do Metrô. A polícia o acusa de ser líder dos "black blocs". Ele nega. Foi solto após a perícia comprovar que ele não portava explosivos, como sustentava a polícia.

"Fábio foi um preso político? Ele foi, em especial, um preso eleitoral. Os atos públicos se multiplicavam, não havia prisão de ninguém, houve danos ao patrimônio e a população cobrava do governo algum tipo de medida. Então, a polícia resolveu agir no momento pior", afirmou o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh.

Marlene Bergamo/Folhapress
O estudante e funcionário da USP Fábio Harano com sua mãe durante entrevista
O estudante e funcionário da USP Fábio Harano com sua mãe após ser libertado

Greenhalgh e Harano concederam uma entrevista coletiva na Faculdade de Direito da USP nesta tarde, ao lado da mãe do militante, Helena Harano, do senador Eduardo Suplicy (PT), do deputado estadual Adriano Diogo (PT), do padre Júlio Lancelotti e do diretor do Sintusp (sindicato dos funcionários da USP) Magno Carvalho.

O defensor contestou os quatro pontos da acusação contra Harano: incitação à violência, associação criminosa, porte de explosivo e desobediência.

Segundo Greenhalgh, o protesto de 23 de junho terminou sem registro de violência, a associação criminosa requer a participação de no mínimo três pessoas –apenas Harano e o professor de inglês Rafael Lusvarghi, 26, são acusados– e o explosivo não existia.

VIOLÊNCIA

Hideki apresentou-se como um militante desvinculado de partidos políticos ou movimentos organizados e negou ser "black bloc".

"Quem me conhece, sabe: eu não saio quebrando as coisas, não ataco policial com pistola .40, não quebro vidraças", disse.

Conforme noticiou a coluna Mônica Bergamo nesta quarta-feira, o manifestante voltou a dizer que apanhou de policiais no Deic (departamento que investiga o crime organizado) e que o tubo de tinta atribuído a ele como sendo uma bomba foi "plantado" em sua mochila.

Procurada para comentar as afirmações, a Secretaria de Segurança Pública afirmou, em nota, que Harano "é réu em processo que está na Justiça".

"Se o advogado de defesa do sr. Harano considera eleitoreira a prisão de seu cliente, seriam eleitoreiras também a denúncia do Ministério Público e a decisão judicial que a acatou?", disse a nota.

Sobre a afirmação de ter sofrido violência no Deic, a secretaria afirmou que Harano "não apresentou acusação formal sobre as supostas agressões verbais ou físicas que ele afirma ter sofrido. Sem isso, não é possível investigá-las."


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