Folha de S. Paulo


Sem licitação, empresa lucra R$ 13 mi com teleférico do Alemão

Contratada sem licitação há três anos para operar o teleférico do Alemão, a Supervia lucrou mais de R$ 13 milhões com o serviço até maio. O valor não inclui as despesas com a operação dos sistema, que consumiram R$ 113 milhões dos cofres públicos.

O teleférico transporta, diariamente, cerca de 12 mil pessoas. Ele foi construído com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) durante as obras na favela, concluídas em 2011.

Após os três anos de obra, o Estado contratou a Supervia em caráter "experimental", para analisar os custos do sistema. Os testes ocorreram de julho de 2011 até agora.

Pelo contrato, obtido pela Folha através da Lei de Acesso à Informação, a Secretaria de Transporte faz o ressarcimento integral dos custos à Supervia, também concessionária do serviço de trens no Rio. De acordo com a pasta, foram gastos R$ 113,7 milhões para cobrir essas despesas.

Além do custo operacional, o Estado paga também uma "taxa de administração" de 10% sobre as despesas -R$ 11,37 milhões em três anos.

A Supervia também pode ficar com 20% do arrecadado sobre receitas publicitárias ou com eventos realizados nas estações -o restante fica com o Estado. As receitas acessórias somaram, no total R$ 9,5 milhões, dos quais R$ 1,9 milhão ficaram com a empresa.

Somadas as receitas acessórias com a taxa de administração, o lucro da Supervia com o teleférico foi de R$ 13,27 milhões em três anos.

O contrato sem licitação, assinado em 2011, previa o serviço experimental por um ano. O acordo, contudo, foi renovado mais quatro vezes, a última no mês passado. O Estado afirma que planeja, agora, realizar concorrência para operar o sistema.

O teleférico foi construído tendo como justificativa melhorar o deslocamento de moradores do Complexo do Alemão ao sistema ferroviário -uma das estações faz integração com os trens.

Um grupo de moradores, contudo, questiona a realização da obra. Afirma que as estações estão no topo dos morros que compõem o complexo de favelas, o que dificulta o acesso de quem não mora perto delas.

Apontam como evidência do insucesso do teleférico o uso abaixo de sua possibilidade -média diária de 12 mil pessoas, tendo como capacidade 30 mil viagens por dia. Cerca de 30% dos passageiros do teleférico são turistas.

Escolhido como símbolo das obras em favelas do Rio, o teleférico também foi construído no morro da Providência (centro). A Prefeitura também não fez licitação para operar o sistema, que começou a funcionar mês passado. O município incluiu o serviço dentro da PPP do Porto Maravilha sem divulgar o custo de manutenção do projeto.

O Estado prepara a construção do terceiro exemplar, na Rocinha. Após protestos de moradores, que pediam obras em saneamento básico em vez de teleférico, o governo reduziu a extensão do sistema. Aboliu a linha de gôndolas que levaria da futura estação do metrô, na base da favela, ao Parque Ecológico.

Daniel Marenco - 15.fev.12/Folhapress
Teleférico no Complexo do Alemão faz empresa lucrar R$ 13 milhões
Teleférico no Complexo do Alemão faz empresa lucrar R$ 13 milhões; transporte leva 12 mil por dia

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