Folha de S. Paulo


Polícia investigará excessos da PM durante protesto contra Copa no Rio

O Comando da Polícia Militar determinou abertura de um inquérito para apurar a violência policial contra manifestantes durante protesto anti-Copa no domingo (13), na região do estádio Maracanã, zona norte do Rio. A Folha também flagrou diversas agressões a jornalistas e outras pessoas durante a repressão ao protesto.

A polícia usou bombas de gás, de efeito moral, spray de pimenta e tiros de paintball (que têm efeito semelhante ao da bala de borracha) para dispersar o protesto que seguia pacífico. Policiais também agrediram pessoas com cassetetes e chutes.

Segundo o Sindicato do Jornalistas, ao menos 15 profissionais da imprensa foram agredidos. A reportagem presenciou agressão a pelo menos nove.

Imagens feitas por coletivos de mídia alternativa mostraram que um policial militar deu um chute no rosto do fotojornalista freelancer canadense Jason O'Hara quando estava caído no chão, após ser golpeado com cassetetes. Ele usava um capacete com a palavra "Press" (imprensa em inglês) e que é uma referência em áreas de conflito no mundo. A reportagem presenciou o momento a agressão.

"O Comando [da Polícia Militar] esclarece que repudia estes atos revelados por imagens de cinegrafistas amadores. Vale esclarecer que a população teve resguardado o seu Direito Constitucional de Manifestação, havendo necessidade de bloqueio no caso específico na Tijuca, já que havia informações de inteligência sobre manifestantes planejando atos na entrada do Maracanã, colocando em risco a segurança de milhares de torcedores", informou a PM em nota.

O primeiro conflito começou na rua Conde de Bonfim, a principal da Tijuca, às 15h05, quando a polícia respondeu com bombas a tentativa de parte dos manifestantes de entrar em uma rua lateral durante a marcha. A polícia havia feito cordões com homens e cavalaria nos quatro lados do protesto.

Durante a confusão, a marcha, que reunia pouco mais de 300 pessoas, se dispersou pela praça Saens Peña. Policiais a pé avançaram e fizeram detenções de ativistas. Muitas violências foram registradas nesse momento, com manifestantes sendo derrubados e chutados por policiais. Ainda na praça, oito policiais montados em cavalos avançaram sobre os manifestantes com espadas de ferro em punho, causando ainda mais tumulto.

Um grupo de manifestantes tentou se abrigar na estação Saens Peña do metrô, que fica em uma das laterais da praça. Policiais entraram no local e vídeos postados nas redes sociais mostram que usaram spray de pimenta dentro do ambiente fechado, atingindo civis que não tinham relação com o protesto. Depois disso, a estação foi fechada. Na versão da polícia, os manifestantes invadiram a área.

"Foi necessário usar bombas de gás para dispersar, inclusive, alguns manifestantes que arrombaram as portas do Metrô e invadiram a área então interditada", diz a nota da PM.

Segundo a PM, seis pessoas foram detidas, das quais quatro autuadas por desacato.

Após os dois principais focos de conflito, a final da Copa já havia começado e boa parte dos manifestantes já havia sido dispersada. A polícia, então, fez cordões nos quatro lados da praça e impediu que manifestantes, imprensa e moradores da região cruzassem para um dos lados, o que deixou a situação ainda mais tensa.

Uma jovem que tentou furar o bloqueio foi jogada no chão e segurada pelo pescoço. Ela foi levada para uma viatura, sob protestos e vaias. O Batalhão de Choque e policiais de outras unidades lançaram uma série de bombas de efeito moral contra os manifestantes. Jason O'Hara registrava esse conflito quando foi agredido e teve a câmera que estava acoplada no capacete dele arrancada.

"Todas as denúncias e imagens recebidas relativas a excesso na ação de policiais militares estão sendo encaminhadas à Corregedoria para ajudar nas investigações", informa a PM.

Ainda segundo a PM, pessoas que tenham queixas sobre a conduta de policiais podem fazer denúncias pela Ouvidoria da Polícia (33991199) ou procurar a Corregedoria da Polícia Militar.


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