Após observar pela janela a algazarra que curiosos e emissoras de televisão faziam em frente à delegacia, o ex-goleiro Bruno Fernandes se pôs a observar o símbolo da Polinter (polícia interestadual), para onde fora levado detido sob suspeita da morte da modelo Eliza Samudio.
"É uma águia?", perguntou à diretora da delegacia na zona norte do Rio. E resolveu emendar: "A senhora já viu 'Ninho das Águias'? Veja, é muito bom", recomendou.
Bruno referia-se ao filme cujo título em português é, na verdade, "O Desafio das Águias"-sobre um militar americano que durante a Segunda Guerra é capturado por nazistas e levado para uma fortaleza nos Alpes.
O comportamento distante e impassível do então capitão do Flamengo chamava a atenção após sua prisão, naquele 7 de julho de 2010.
Eliza cobrava o reconhecimento da paternidade de seu filho, Bruninho, resultado de uma noite de orgia com ele e outros rubros-negros. Presos, Bruno e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, seu amigo e braço direito,
eram os principais suspeitos de sua morte.
| Livro |
| Indefensável |
| Paulo Carvalho, Leslie Barreira Leitão, Paula Sarapu |
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Alheio às consequências de uma condenação por assassinato -ele pegou 22 anos de prisão-, Bruno lamentava.
"Agora eu acho que as coisas ficaram muito mais difíceis... Se eu tinha esperanças de disputar a Copa de 2014, acabou", disse.
Nada parecia atingi-lo, a não ser a perspectiva de ficar fora do Mundial. Esse perfil e a falsa ideia de onipotência do ex-atleta dão a tônica a "Indefensável".
Resultado de mais de cem entrevistas realizadas pelos jornalistas Leslie Leitão, Paula Sarapu e Paulo Carvalho, que cobriram o caso, o livro é mais bem digerido se lido de uma só vez.
O ritmo é de um thriller policial. Por vezes, torna-se difícil acreditar que o goleiro do clube mais popular do país, campeão brasileiro de 2009, tenha arquitetado plano tão canhestro quanto macabro.
"Era muita ingenuidade pensar que ninguém iria desconfiar de um plano desses", afirma Carvalho, que, em 2009, gravou um vídeo em que Eliza acusava o goleiro de agredi-la e alertava que, caso alguma coisa lhe
acontecesse, o flamenguista estaria por trás.
Bruno queria se livrar da modelo e isso tinha tudo para dar errado. O caso com Eliza já se tornara público, assim como sua tentativa forçada para que ela abortasse.
Entre salário e direitos de imagem, ele ganhava mais de R$ 220 mil por mês.
Chegaram a fazer um acordo. O atleta faria o exame de DNA e, caso Bruninho fosse seu filho, registraria o menino e arcaria com a pensão.
Mesmo assim, o goleiro deu ordem a Macarrão para tirá-la do Rio, levá-la para seu sítio em Minas Gerais e entregá-la ao ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para que este a matasse.
Bruno vivia em um mundo que não se sustentaria por muito tempo, erguera um castelo sobre terreno frágil.
Entre o luxo e a ostentação que criou para ele e seus amigos e a absoluta falta de estrutura familiar e social em que cresceu, vivia o homem que se acostumou a não se preocupar com problemas.
Macarrão estava lá para isso. Mantinha uma relação doentia de admiração pelo amigo e ocupava todos os espaços na vida do goleiro -a ponto de Ingrid, namorada de Bruno, não suportá-lo.
"Indefensável" detalha também os passos finais de Eliza -do convite para ir a Minas, atraída pela promessa de ganhar um apartamento em Belo Horizonte, aos últimos dias passados no sítio e a forma como foi morta
.
Apesar de tudo o que passara, a modelo resolveu confiar uma última vez em Bruno. Passou seus últimos dias no ninho da águia.
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"INDEFENSÁVEL"
AUTOR Leslie Leitão, Paula Sarapu e Paulo Carvalho
EDITORA Record
QUANTO R$ 32 (266 páginas)
AVALIAÇÃO Regular