Folha de S. Paulo


Sem-teto acuam vereadores em SP e irritam até base de Haddad

O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) montou acampamento em frente à Câmara Municipal nesta terça-feira (24), acuou os vereadores para cobrar a aprovação do Plano Diretor e irritou de parlamentares da oposição aos que integram a base do prefeito Fernando Haddad (PT).

O plano, que depende de segunda votação, é um conjunto de regras do crescimento da cidade por 16 anos.

Os sem-teto cobram a transformação de um terreno ocupado pelo movimento, apelidado de Copa do Povo, em Itaquera (zona leste), em área para habitação popular.
Eles passaram a pressionar a Casa pela aprovação do Plano Diretor depois de um protesto diante da prefeitura em abril, quando Haddad subiu em um carro do som e prometeu uma área se os vereadores aprovassem esse projeto.

Nesta terça (24), os sem-teto reuniram 1.500 manifestantes em frente à Câmara. Bloquearam até a saída do estacionamento de vereadores.

Joel Silva/Folhapress
MTST faz protesto pela votação imediata do Plano Diretor de São Paulo em frente à Câmara Municipal
MTST faz protesto pela votação imediata do Plano Diretor de São Paulo em frente à Câmara Municipal

O movimento afirma que ficará acampado no local pelo menos até sexta (27) -devido à promessa do PT de tentar votar o plano até essa data.

O principal alvo de ataques dos sem-teto foi José Police Neto (PSD), ex-presidente da Câmara na gestão Gilberto Kassab (PSD). Os manifestantes ameaçavam queimar um boneco do parlamentar.

Em um cartaz, ele foi chamado de "vereador das empreiteiras". Os sem-teto citavam doações de construtoras -previstas em lei e declaradas- à campanha eleitoral dele no valor de R$ 400 mil.

"Tem gente querendo votar e meia dúzia que impede. O principal é esse Police Neto", disse Guilherme Boulos, coordenador do MTST.

A ação foi tomada como uma ofensa à Casa por alguns vereadores, que no final da sessão ficaram esperando um pedido de desculpas por parte de Boulos. Os parlamentares também queriam um compromisso de
que "ataques" seriam interrompidos.

"Você tem 13 partidos. Cada um reage de um jeito diferente. Esse caso do Police gerou uma reação em cadeia, uma solidariedade não à pessoa do Police, mas à forma como ele foi atacado", disse o presidente da
Câmara, vereador José Américo (PT).

"A gente vai se curvar a um único movimento que usou a violência como mote principal? Não vamos", disse Police Neto. Ele afirmou que as doações foram lícitas e que os sem-teto não colocaram uma lista "com os
milhões que o prefeito recebeu".

José Américo afirma que haveria tempo para iniciar a votação na sexta. O próprio PT, porém, admite dificuldade para conseguir maioria.

"Não temos os 33 votos garantidos para votar agora porque estamos discutindo as pendências de vereadores da base e alguns que nem são da base", afirmou o vereador Alfredinho, líder do PT.

ALCKMIN

Durante a noite, Guilherme Boulos se reuniu também com o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).

Ao sair da reunião, Boulos disse que o governador se comprometeu com três pontos.

O primeiro é a criação de uma comissão estadual de mediação de conflitos urbanos, para tentar evitar despejos forçados em São Paulo.

Outro ponto foi a promessa de mais recursos para o programa Casa Paulista, que financia casas próprias populares.

Ainda segundo Boulos, o terceiro ponto discutido com Alckmin foi a construção de linhas de metrô na periferia de São Paulo. Para isso, o MTST será convidado para uma reunião com o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes.

As informações foram confirmadas pelo Palácio dos Bandeirantes.

Outra reivindicação feita pelo MTST é que os policiais voltem a ter identificação nominal durante protestos. Atualmente, policiais têm usado uma identificação numérica quando acompanham manifestações.


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