Folha de S. Paulo


Invasão no centro de SP hospeda turista estrangeiro por 'couchsurfing'

No número 138 da rua Marconi, no centro de São Paulo, há sempre uma visita –na maioria, estrangeira.

É num prédio nesse endereço que está a ocupação Marconi, única invasão da capital paulista que recebe visitas de turistas de todo o mundo pelo sistema "couchsurfing".

Atualmente, quem anda por lá e fica até 2 de julho é o chileno Javier Álvarez, 26. Ele veio ao Brasil para fazer um ensaio fotográfico sobre as ocupações em São Paulo.

O "couchsurfing" utiliza a internet para fazer a ponte entre pessoas que procuram hospedagem gratuita em várias cidades e aquelas que aceitam receber esses visitantes.

O site oficial foi criado em 2004, é muito usado por mochileiros e já tem mais de 7 milhões de participantes distribuídos em mais de 100 mil cidades pelo mundo.

Nesse site, viajantes e anfitriões têm perfis com suas preferências e afinidades, lugares por onde já passaram e testemunhos de amigos que conheceram nas viagens.

"Estou hospedado na Marconi por razões financeiras e ideológicas. Acredito que a maneira melhor de retratar uma realidade é vivê-la por dentro", diz Javier.

Raquel Cunha/Folhapress
Erradicado francês, Henrick Charles Droulez, 23, encontrou alojamento pelo sistema
Erradicado francês, Henrick Charles Droulez, 23, encontrou alojamento pelo sistema "couchsurfing"

A Marconi recebe visitantes como ele por até 15 dias. As reservas podem ser feitas tanto pelo site oficial do "couchsurfing" como pelo site do MMPT (Movimento de Moradia para Todos), responsável pela ocupação.

O visitante não paga nada para ficar hospedado em um quarto reservado especialmente para esse fim. Moradores fixos da ocupação pagam uma mensalidade de R$ 150.

"Receber essas visitas por um tempo curto é uma maneira de apresentar às pessoas o trabalho sério que fazemos", diz Welita Caetano, presidente do MMPT.

PIONEIRA

Na Marconi, já foram recebidas mais de 30 pessoas desde que o sistema foi implantado. Entre os hóspedes estão jornalistas estrangeiros, estudantes e gente que viaja a trabalho –como Javier.

O primeiro hóspede da invasão foi Henrick Charles Droulez, 23, um brasileiro criado na França.

"Queria conhecer São Paulo de uma forma espontânea. Na ocupação Marconi, acho que consegui conhecer um pouco mais da realidade brasileira", diz Droulez.

Ele ficou 15 dias como visitante de "couchsurfing". Gostou tanto que virou morador por outros oito meses.

Atualmente, Henrick está em outra invasão, localizada na rua Pamplona, no Jardim Paulista, bairro nobre da capital paulista.

Com o MMRC (Movimento de Moradia da Região do Centro), ele tomou o prédio no número 935 no dia 12 de junho. Para pagar as contas, dá aulas de francês.

Como tem dado certo, a ideia da Marconi deve se expandir em breve para a invasão da rua Pamplona.

Segundo o MMRC, ainda faltam reparos, como instalar torneiras, e dividir os quartos entre os moradores –atualmente, eles estão alojados de maneira improvisada.

"Assim que for possível, começaremos o 'couchsurfing'. É um caminho para as pessoas conhecerem o movimento por dentro", diz o ativista Guilherme Land, 28.


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