Folha de S. Paulo


Reintegração de posse no Recife termina com 4 detidos e 3 feridos

O clima voltou a esquentar do final da manhã desta terça-feira (17) entre ativistas do movimento Ocupe Estelita, no Recife, e policiais da Tropa de Choque e da Cavalaria da PM.

Mais cedo, a reintegração de posse de uma área no cais José Estelita, no centro do Recife, terminou com quatro pessoas detidas e outras três feridas. Os manifestantes acusaram a PM de ter usado chicotadas contra eles na ação.

Os ativistas ocuparam o local em protesto ao projeto Novo Recife, que prevê a construção de vários prédios. Devido ao nome do cais, o movimento se denominou Ocupe Estelita.

Desde então, a ocupação interrompeu as obras das construtoras.

A nova confusão começou após os ativistas tentarem impedir a entrada de escavadeiras no local reocupado pela polícia.

Depois, um ônibus com dezenas de funcionários do Consórcio Novo Recife chegou ao local. Como os ativistas suspeitaram que eles fossem retomar as obras no terreno, o clima ficou tenso. Os trabalhadores desistiram, então, de entrar no local, voltaram para o ônibus e deixaram o cais.

Após a reintegração de posse, aumentou o número de ativistas na região do cais –às 11h30, eram cerca de cem manifestantes.

Por volta das 12h, eles foram para a avenida Engenheiro José Estelita, em frente ao cais, tentar parar o trânsito como forma de protesto.

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imagens: Daniel Carvalho

Nesse momento, os policiais voltaram a usar bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. A Folha presenciou quando um dos PMs jogou spray de pimenta no rosto de um deles.

O clima ficou tenso no local. Ativistas chegaram a discutir inclusive com o ex-secretário do Meio Ambiente do Estado Sérgio Xavier

MOVIMENTO NO CAIS

O cais estava ocupado havia quase um mês e ficou conhecido nacionalmente após o movimento Ocupe Estelita. Os ativistas acamparam no local para protestar contra um projeto de empreendimento imobiliário na área de 100 mil m² (equivalente a dez campos de futebol) à margem do rio Capibaribe.

O plano imobiliário do Novo Recife prevê a construção de torres residenciais e comerciais num terreno no centro histórico do Recife.

O movimento Ocupe Estelita, que atraiu o apoio de intelectuais e artistas (como Otto, Alceu Valença e Ney Matogrosso). O grupo é contra o projeto Novo Recife por acreditar que os espigões de concreto agridem a paisagem do centro histórico e criam uma "ilha de luxo" cercada pela pobreza do centro da capital pernambucana.

De acordo com a assessoria de imprensa do consórcio Novo Recife, a intenção de mandar os trabalhadores para o local reocupado não era recomeçar a demolição, mas isolar o terreno com tapumes. A empresa não tem autorização para intervir na área, porque o imóvel está embargado pelo Iphan.

O consórcio disse ainda, em nota, que a ocupação do cais é ilegal, o que foi reconhecido pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco ao determinar a imediata desocupação do imóvel.

Segundo o texto, o não acatamento pelos ocupantes da ordem judicial resultou na determinação de uso da força policial para o cumprimento do mandato de reintegração expedido pelo Tribunal de Justiça.

Por volta de 16h15, um grupo de turistas da Costa Rica estava a caminho da Fan Fest para assistir a partida entre Brasil e México quando foi obrigado a descer do ônibus por causa do bloqueio dos manifestantes no acesso entre a zona sul e o centro.

"Não sei qual o motivo da manifestação. Viemos conhecer um país, ver partidas de futebol e não podemos passar. Pensávamos que era um país mais de paz. Estamos muito assustados", disse a costa-riquenha Astrid Bins.

Pelo menos um ônibus e um automóvel foram apedrejados.


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