Folha de S. Paulo


Antigo leprosário é tombado pelo patrimônio histórico em Bauru

Parte da memória de sofrimentos e apartação a que foram submetidas as vítimas da hanseníase no Brasil desde o início do século 19 começa a ser preservada no Estado de São Paulo com o tombamento do antigo Asilo Colônia Aimorés, o leprosário de Bauru (329 km de São Paulo).

O local, aberto em 1935, chegou a reunir 2.000 pessoas em regime de internação compulsória. Fica na zona rural da cidade e é o atual Instituto Lauro de Souza Lima.

Foram preservadas pelo Condephaat (órgão do patrimônio estadual) várias construções no complexo, entre elas uma igreja, um cineteatro, uma tribuna e prédios administrativos.

"Também foram protegidos acervos, documentos, arquivos médicos e equipamentos de trabalho. As condições das instalações são boas. A arquitetura está praticamente toda preservada", afirma a arquiteta Adda Ungaretti, que trabalhou no estudo técnico que levou ao tombamento.

Divulgação
Igreja dentro do antigo leprosário de Bauru, tombado pelo patrimônio histórico
Igreja dentro do antigo leprosário de Bauru, tombado pelo patrimônio histórico

O sistema de isolamento das vítimas de hanseníase foi criado em São Paulo em 1924, com o Serviço de Profilaxia da Lepra que, mais tarde, se tornou Inspetoria de Profilaxia da Lepra.

REGIME RIGOROSO

"A notícia do tombamento é maravilhosa. O Brasil ainda patina para preservar a história de violência a que foram submetidas milhares de pessoas trancafiadas nos leprosários", diz Artur Custódio, coordenador
nacional do Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase).

Segundo Custódio, São Paulo aplicou um dos regimes mais rigorosos contra os hansenianos, que eram arrancados de suas casas e suas famílias para viver nas colônias localizadas em áreas isoladas do interior do
Estado.

Por outro lado, arquivos e prontuários médicos dos antigos internos estão bem preservados, o que auxilia em pesquisas e para tentar reunir famílias que foram separadas.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, 360 ex-pacientes ainda vivem em instalações dos antigos leprosários de São Paulo.

OUTROS TOMBAMENTOS

O órgão do patrimônio também aprovou a abertura de estudo de tombamento para outras quatro instituições.

O Preventório Santa Terezinha do Menino Jesus, em Carapicuíba -para onde eram levadas as crianças filhas das vítimas da hanseníase- está nessa lista.

Também serão avaliados o Asilo Colônia Cocais, em Casa Branca, o Asilo Colônia Pirapitingui, em Itu, e o Asilo Colônia Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes.

Para o Condephaat, a preservação "consiste em uma possibilidade de estudar e preservar a memória de um passado doloroso individualmente que foi quase esquecido socialmente, porque era indesejável".


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