Folha de S. Paulo


Pais têm dúvida sobre que tipo de castigo será considerado violento

A Lei da Palmada, aprovada ontem (4/6) no Senado, deixou muitos pais na dúvida sobre que tipo de sofrimento físico causado à criança poderá resultar em punição.

"Se estou na rua, puxo o braço do meu filho com força e grito com ele. Vai vir alguém me denunciar por isso?", questiona a radialista Mirian Lizaso de Siqueira, 46.

Mãe de Sofia, 8, e dos gêmeos Marcella e Gabriel, 12, ela diz que apanhou quando era pequena, mas que as palmadas foram corretivas.

"Se apanhei foi com razão, mas não de forma violenta. Foi chamada de atenção, tapa no bumbum. Esse tipo de palmada não me fez mal nem física nem psicologicamente."

Mãe de dois filhos, a dona de casa Aline Vaccaro, 42, também tem dúvidas sobre a lei. Ela teme que haja uma confusão sobre o que é um tapa ou uma agressão maior.

"Só quem é pai e mãe sabe quando pode dar uma palmada. Quem olha de fora acha que é violência e não é", diz. "Não dá para confundir palmada com espancamento."

Editoria de Arte/Folhapress

A auxiliar de serviços Evanir Klauman, 40, diz que o filho de 22 anos só se tornou um "homem trabalhador" porque "levou palmadas, chacoalhões e puxões de orelha".

"O governo proibindo ou não a educação dos meus filhos dentro da minha casa, vai continuar do meu jeito", afirma ela, que também tem uma filha de nove anos.

Para a corretora de imóveis Paula de Azevedo Dias Maia, 30, a criança precisa saber seu limite. Mas ela diz que nunca levantou a mão para o filho de três anos. "Os pais não podem aceitar tudo o que o filho faz. Deixo ele sentado pensando, nem falo de castigo. Ele pede desculpa. Tem resolvido", afirma ela, grávida de novo.

AGRESSIVIDADE

De acordo com Quézia Bombonatto, da Associação Brasileira de Psicopedagogia, optar pela palmada para repreender o filho pode alimentar uma agressividade da criança.

"Uma conversa é mais eficiente e evita um ciclo de violência. Quando a criança desafia o pai e diz que o tapa não doeu, o que ele vai fazer? Dar outro com mais força?"

Para a especialista, a lei visa chamar a atenção para casos de exagero e de uso da violência frequente.

"Uma palmada eventual pode não traumatizar. Mas como nunca se sabe o que isso vai significar para a criança, é melhor evitá-lo", diz. "A preocupação é com a maneira como a criança é criada. Tem amor, carinho e cuidado ou é tudo na base do tapa?"

Para Ricardo Cabezón, da Comissão de Direitos Infantojuvenis da OAB-SP, a lei deixa claro aos pais que eles não podem bater nos filhos.

"Essa lei apenas explica melhor, deixa mais claro o que já existe na Constituição, no ECA e no Código Civil. O código não fala 'não pode bater'. Então essa lei veio para deixar isso bem explícito."

Segundo Cabezón, a sociedade ainda acredita que o filho é o patrimônio dos pais -que poderiam tratá-los como quisessem. "Alguns dizem que o tapa é para o bem da criança, mas não têm ideia da força física que têm.
Pode ser um tapinha para ele e algo extremamente violento e doloroso para a criança."


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