Folha de S. Paulo


Comitê de crise diverge sobre uso de água do sistema Cantareira

O grupo de crise que administra o sistema Cantareira tem um grande conflito para resolver, nas palavras de Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas).

Hoje, existem duas propostas diferentes para administração da maior crise hídrica que a Grande São Paulo já viveu, pelo menos, em 80 anos.

O governo do Estado quer que a quantidade de água retirada pela Sabesp do sistema, hoje em 21,5 metros cúbicos por segundo por mês, permaneça inalterada até o próximo verão.

A posição da ANA é diferente. Segundo Guillo, que esteve ontem (2/6) no Fórum de Sustentabilidade promovido pela Folha, o objetivo da agência é atuar pela "segurança hídrica" do Cantareira.

"Nossa proposta é revisar a vazão para ser liberada, em dias ou semanas, baseado na quantidade de água que chega ao sistema no período imediatamente anterior."

Ou seja, explica Guillo, "se chover mais, haverá mais água para ser liberada; se chover menos, a restrição será maior".

Essa é a grande divergência entre as duas propostas em debate nas reuniões do comitê de crise.

O governo de São Paulo, que apesar de convidado não mandou representante ao fórum, não quer ter restrição na quantidade de água retirada do sistema. A aposta é que, com as chuvas de verão, a situação comece a voltar ao normal.

Mas, caso isso não ocorra, o governo paulista vai avançar ainda mais sobre a água do chamado "volume morto" –reserva de água abaixo dos pontos normais de captação; atualmente, ela é retirada por meio de equipamentos.

Além dos 183 milhões de metros cúbicos que estão sendo utilizados, a proposta prevê o uso de mais 100 milhões. No total, são aproximadamente 400 milhões de metros cúbicos armazenados na parte dos reservatórios que fica abaixo do ponto de captação.

Inara Chayaniti/Folhapress
Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas)
Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas)

'VISÕES DIFERENTES'

O presidente da ANA admite que as propostas partem de "visões de gestão muito diferentes, mas que ambas devem ser igualmente respeitadas".

De acordo com as contas da agência federal, se a quantidade de água que chega ao sistema continuar como nas últimas semanas, seria necessário reduzir a retirada de água do Cantareira para 16,5 metros cúbicos por segundo.

"Uma redução de 5 metros cúbicos por segundo significa realmente muita água", diz.

"A proposta do governo do Estado de São Paulo joga para o futuro um risco muito significativo. Há 40% de chances de que as chuvas [até o ano que vem] não sejam suficientes para repor o uso do volume morto", diz o diretor-presidente da ANA.

A decisão de como será administrada a crise no Cantareira caberá ao grupo (formado por ANA, Estado, Sabesp e comitês de bacias da região), que buscará um consenso.

Para ele, isso precisa ocorrer ainda em junho, pois a situação de falta de chuvas é "extremamente grave".


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