Folha de S. Paulo


Modelo brasileira presa na China conta que dividiu cela com 14 detentas

A modelo Amanda Griza, 19, voltou para casa na semana passada, após passar 17 dias presa em Pequim, na China, sob suspeita de ter entrado ilegalmente no país. O caso ganhou repercussão internacional, e a diplomacia brasileira no país interveio.

Agora, a gaúcha se recupera do episódio em Balneário Camboriú (SC), onde mora com os pais, mas diz que não quer desistir do trabalho como modelo no exterior.

Confira o depoimento abaixo.

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Sempre gostei de fotos. Quando fiz 11 anos, minha mãe me deu um book de presente de aniversário.

Eduardo Valente/APP/Folhapress
Modelo Amanda Griza, de 19 anos, que ficou detida por 17 dias na China
Modelo Amanda Griza, de 19 anos, que ficou detida por 17 dias na China

Naquela época, a gente morava em Osório (RS) e eu costumava ir a Porto Alegre fazer testes [para modelo].

Meu primeiro trabalho no exterior foi no México, no ano passado. Depois, fui para a China. Era para fazer foto, passarela, tudo um pouco. Fiz catálogos e editoriais.

No dia em que fui presa, tinha sido chamada para um teste de sapatos. Pensei em não ir, porque um dia antes fui conhecer as muralhas da China e estava com o pé machucado. Mas acabei indo.

No prédio onde estava, havia três agências. Tinha ido a uma e, quando desci com três amigas -uma espanhola, uma ucraniana e uma inglesa-, vi a polícia. Não entendi o que estava acontecendo.

Tinha visto de negócios e achei que não daria em nada. Mas disseram que eu seria presa. Me levaram para a imigração e para a delegacia prestar depoimento. Pegaram meu celular, minhas coisas. Fizemos um teste de urina e fomos levadas para a prisão.

Era uma cadeia com grades e portas de ferro. A gente deitava em tábuas de madeira, uma do lado da outra.

O banheiro era no solo. Era uma condição de preso, mas as autoridades diziam que era uma unidade de passagem.

Nós não podíamos receber comida nem visita. Não pudemos nem telefonar. Era uma agonia. A comida era uma sopa nojenta.

Chegamos a ficar em 14 na mesma cela. Em outra parte da cadeia, tinha um grupo de 30 filipinas. Era um entra e sai muito grande, principalmente de chinesas.

Soube de uma que foi presa porque gritou com o marido na rua. Outra foi levada para lá porque brigou com o advogado. Isso deixava a gente ainda mais assustada.

O horário de dormir era das 22h às 6h30. Por ordem deles, duas da cela tinham de ficar acordadas de tempos em tempos, num revezamento, para ajudar a vigiar a cadeia.

Meu desespero era muito grande, eu chorava o dia inteiro. Mas depois as filipinas disseram para eu parar.

Contaram que uma garota que tinha chorado muito tinha sido levada para a solitária. As chinesas também faziam sinal para eu parar.

Foi a experiência mais horrível da minha vida.

Não sei direito por que fui presa. Falavam em visto, mas ninguém era claro.

No domingo (25), quando disseram que eu poderia sair, parecia mentira. Não acreditava que estava livre, porque, na cadeia, sentia como se nunca fosse voltar para casa.

Na rua, quando peguei o celular e vi que meus amigos estavam falando comigo, comecei a chorar muito.

Na prisão, cheguei a pensar que era um sinal para deixar de ser modelo. Mas decidi que a vida segue. Tenho trabalhos no Brasil, mas, se tiver que viajar de novo, eu vou. Talvez escolha outros lugares... mais tranquilos.


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