A Sabesp e o comitê anticrise apontam números diferentes para a água armazenada no sistema Cantareira. Enquanto a companhia do governo estadual mostra dados acima de 26% desde sexta-feira (16), o GTAG (Grupo de Assessoramento Técnico para Gestão), ligado à ANA (Agência Nacional de Águas) aponta cerca de 22%.
Até quinta-feira (15), os dois órgãos apontavam o mesmo índice de 8,2% para o volume útil armazenado do sistema. Os percentuais de 22,3% e 22,2% do GTAG referentes respectivamente a sábado e domingo correspondem exatamente à razão entre volume útil total considerando a reserva que passou a ser utilizada e os volumes armazenados nessas datas.
Apesar de o cálculo desses percentuais envolver uma simples operação de divisão seguida de ajustes de casas decimais, a Sabesp, em resposta por e-mail, não informou com clareza como obteve índices cerca 4 pontos percentuais maiores que os do grupo técnico.
"Trata-se de uma publicação de responsabilidade da agência reguladora", disse a nota da companhia, que, ao final, acrescentou que "trata-se da mesma quantidade de água. A divergência está apenas no critério da conta."
O chamado "volume morto" começou a ser incorporado ao volume útil para consumo na sexta-feira, quando o site da Sabesp anunciou 26,7% de armazenamento. Essa reserva de água na zona mais funda das represas fica abaixo da tubulação que capta o líquido dos reservatórios e passou a ser bombeada para a superfície após obras.
No sábado, a companhia informou o índice de 26,5% para o volume armazenado, enquanto o boletim do GTAG indicava 22,3%. No domingo, quando para a estatal o novo índice foi 26,4%, o registro do grupo técnico passou a ser de 22,2.
Antes disso, na quinta-feira, o volume útil total considerado pela Sabesp para o sistema Cantareira ainda era de 986,56 milhões de metros cúbicos. Naquele dia, o armazenamento era de 80,10 milhões de metros cúbicos, o que correspondia a 8,2% do volume total, segundo o boletim do GTAG daquele dia.
Já atualizado com dados do uso do volume morto, o GTAG publicou novo boletim no sábado, informando que o volume útil total passara a ser de 1,164 bilhão de metros cúbicos. O armazenamento disponível para abastecimento aumentou para 259,78 milhões de metros cúbicos, passando a ser 22,4% do volume total, diferentemente dos 26,3% anunciados no mesmo dia pela Sabesp.
POSSIBILIDADES DE ERRO
Em sua resposta, a Sabesp mencionou coincidentemente 18,5% como variação correspondente ao acréscimo 185,2 milhões de metros cúbicos do volume morto. Não é essa a explicação da empresa, mas somando-se indevidamente esse percentual aos 8,2% de armazenamento antes do uso do "volume morto", o resultado obtido é exatamente o dado de 26,7% anunciado na sexta-feira.
Outra possibilidade é o uso do volume útil total anterior como base para o cálculo do percentual, mas usando o volume armazenado atual. Em outras palavras, isso consistiria em considerar o armazenamento que aumentou com o bombeamento, sem, no entanto, levar em conta esse mesmo aumento na capacidade do sistema, que também cresceu.
Desse modo que não respeita igualmente o aumento do volume total e do armazenamento, os 257,95 milhões de metros cúbicos de armazenamento disponível registrados pelo GTEG nesta segunda-feira corresponderiam dessa forma a 26,2%. Mas na conta do grupo técnico equivalem a 22,2% do volume útil total vigente após o uso da reserva desde a semana passada.
O GTAC Cantareira é integrado por representantes da ANA (Agência Nacional de Águas), do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado), da Sabesp e do Comitê de Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
Até o fechamento desta reportagem a Sabesp não explicou a divergência de seus índices de armazenamento do sistema Cantareira com os do GTAG nem forneceu outras informações solicitadas pela manhã desta segunda-feira.
FORA DO AR
Após o início do uso do "volume morto" a página da Sabesp com a situação dos mananciais na internet interrompeu seu funcionamento.
Também deixou de funcionar no final da manhã desta segunda-feira o blog "Diário do Sistema Cantareira", que tinha outras informações sobre os reservatórios desse complexo que abastece atualmente cerca de 9 milhões de pessoas da Grande São Paulo.
A Sabesp afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que os dois sites de seu portal estão passando por manutenção e que não há, por enquanto, previsão para voltarem a funcionar.