Folha de S. Paulo


'Volume morto' do Cantareira pode acabar antes de novembro, diz agência

Contrariando o discurso otimista do governo do Estado de São Paulo, que recentemente afastou o risco de racionamento em 2014, a ANA (Agência Nacional de Águas) afirmou nesta terça-feira (13) que o "volume morto" do sistema Cantareira pode ser consumido antes de novembro, caso se mantenham os atuais níveis de chuva e retirada de água das represas.

A ANA, junto com o DAEE (Departamento de Água e Energia Elétrica, estadual), é responsável pela gestão do Cantareira, sistema que abastece diretamente 8,8 milhões de pessoas na Grande SP e indiretamente 5,5 milhões no interior do Estado, nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).

Hoje, os reservatórios atingiram um novo recorde negativo, chegando a 8,2% da sua capacidade "útil" –cerca de 80 bilhões de litros de água. Quando o "volume morto" passar a ser captado pela Sabesp, "entrarão" no sistema mais 200 bilhões de litros que estavam abaixo do ponto de captação da Sabesp.

A companhia estadual de saneamento investiu R$ 80 milhões em bombas para conseguir retirar essa água quando o "volume útil" do sistema acabar.

Editoria de Arte/Folhapress

Há dez dias, o novo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, afirmou à Folha que o racionamento está descartado até março de 2015. No dia seguinte, foi a vez do governador Geraldo Alckmin (PSDB) dizer que não haverá racionamento neste ano.

"Temos uma excelente relação com o governo de São Paulo, mas, às vezes, uma manifestação desse tipo faz com que as pessoas mantenham um padrão de consumo que não é compatível com a situação atual", afirmou Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da ANA. "Nós vamos ser chamados de pessimistas, mas os otimistas, que diziam que ia chover em janeiro e fevereiro, agora dizem que vai chover em setembro."

Guillo esteve ontem e hoje em Campinas (a 93 km de SP) para se reunir com usuários de água da região (empresas de saneamento, indústria e agricultura) e avaliar como cada setor está se preparando para um eventual –e provável– agravamento da seca.

"Não sabemos quando essa crise vai acabar, então temos de nos preparar para o pior cenário possível", disse o diretor-presidente da ANA, para quem o racionamento "é uma decisão particular de cada cidade". "Infelizmente a situação é gravíssima. Os dados que estão chegando são mais cruéis que a realidade."

Segundo Patrick Thadeu Thomas, superintendente adjunto da ANA também presente nas reuniões, "para que o "volume morto" dure até novembro é preciso impor medidas restritivas".

"Se o cenário atual continuar, será necessário reduzir as vazões tanto para a bacia do PCJ quanto para a região metropolitana de São Paulo, para que o volume morto dure até novembro", disse o superintendente. "Se o cenário se mantiver, não tem como escapar [de uma redução], senão não chega em novembro."


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