Folha de S. Paulo


Estão fazendo um novo linchamento comigo, diz dono de 'Guarujá Alerta'

O administrador da página "Guarujá Alerta", perfil noticioso que publicou boatos sobre uma sequestradora de crianças que estaria agindo na cidade da Baixada Santista, disse à Folha que está sendo "linchado" como foi a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33.

Fabiane foi confundida com a suposta criminosa e linchada no sábado (3), no bairro de Morrinhos, periferia de Guarujá, e morreu dois dias depois.

O dono da página não quer se identificar porque diz estar sofrendo ameaças de morte. Ele aparenta ter cerca de 25 anos e conta apenas que não é jornalista nem tem formação acadêmica.

Segundo ele, o primeiro texto do "Guarujá Alerta" sobre o caso, publicado em 25 de abril, dizia ter recebido informações de que uma sequestradora estava agindo em bairros como Pernambuco, Maré Mansa e Areião. No fim, dizia: "Se é boato ou não, devemos ficar alerta".

Leia a seguir trechos da entrevista concedida em um escritório de Guarujá, ao lado de seus dois advogados.

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FOLHA - Por que você postou que havia relatos sobre a sequestradora sem saber se eram verdadeiros?

'GUARUJÁ ALERTA' - Colocamos não para alertar a população, mas para que pudessem chegar mais informações. Fomos logo checar com policiais da cidade. Logo depois tivemos confirmações concretas de que não havia sequestradora na cidade e começamos a informar quase diariamente que tudo isso não passava de um boato.

Começaram a cobrar que colocássemos fotos da suposta sequestradora, afirmavam que ela tinha passado na casa de alguém, que arranhou os braços de uma criança, depois pintou o cabelo de preto. Nossa equipe nunca afirmou nada.

Mas as pessoas têm preguiça de ler. No dia 29, colocamos uma matéria totalmente detalhada sobre como tudo começou em uma cidade do Rio de Janeiro. Ainda escrevemos que, por se tratar de um texto longo, muitos não iriam ler.

Por que não esperou a confirmação da polícia antes de fazer a primeira publicação?

Porque o intuito é levar a informação, tranquilizar e ajudar a população, como já ajudamos em outros casos. Não tem por que ter arrependimento disso tudo. Lamento muito por essa senhora, por essa mãe de família que foi cruelmente linchada por pessoas que não tinham qualquer conhecimento de que tudo não passava de um boato. Em nenhum momento citei o bairro Morrinhos nem postei a foto da Fabiane, como disse o advogado da família.

Como soube que tinham agredido a Fabiane?

Comecei a receber mensagens na página de que tinham pego a sequestradora. Pessoas enviando fotos da moça amarrada, machucada. Começamos a informar que não iríamos publicar foto nenhuma e que tudo não passava de um boato.

Quando começou tudo isso, eu estava no serviço, minha cabeça virou pelas acusações que estavam fazendo, as pessoas chamando você de assassino, pessoas cultas, advogados perguntando o que a pessoa acha de um linchamento do dono da página.

Um blogueiro escreveu: "Quem é o culpado? Quem puxa o gatilho ou quem fabrica a arma?" Queremos que a polícia descubra quem foi que a apontou no meio da rua e disse: "Essa é a suposta sequestradora".

Você considera ter "fabricado a arma"?

Não.

Como surgiu o Guarujá Alerta?

Surgiu após eu sofrer um assalto em uma praia da região, em 2012, quando me roubaram um relógio. Voltei para casa muito frustrado e depois disso criei uma página com o slogan "Fui assaltado no Guarujá" para que as pessoas desabafassem, apontassem os locais onde foram roubados, para deixar o pessoal alerta.

A gente denuncia os problemas de infraestrutura da cidade. Estão querendo acabar com a nossa página para deixarmos de fazer isso em ano eleitoral. Estão pegando a gente para bode expiatório. Até o dia 2, era só 'por favor' na página, de pessoas pedindo ajuda.

O que entristece é ver pessoas linchando nossa equipe. Estão fazendo comigo o que fizeram com ela [Fabiane].


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