Folha de S. Paulo


'Não sabia se ela era inocente', diz eletricista preso em Guarujá

O suspeito de participar do linchamento de Fabiane de Jesus, preso na tarde desta terça-feira (6) em Guarujá, disse em entrevista à imprensa, na delegacia sede da cidade, que não sabia se a dona de casa era inocente ou não.

"Aconteceu e aconteceu. Não posso fazer mais nada. Eu também tenho filhos e o papo que rolava é que estavam matando crianças. Não sabia se ela era inocente ou não. A foto era idêntica [retrato falado]", afirmou o eletricista Valmir Dias Barbosa, 47.

Segundo a polícia, ele não resistiu à ordem de prisão e não tem advogado constituído.

Fabiane foi agredida por um grupo de moradores, no último final de semana, após ser apontada como praticante de magia negra e responsável por sequestros de crianças. A polícia local, no entanto, diz não haver indícios de que tenham ocorrido esses sequestros.

Barbosa disse que antes mesmo de ser preso se arrependeu do crime. "Senão já teria fugido", disse. "Só depois descobri por intermédio da sociedade que era uma dona de casa. Para mim, era uma sequestradora." Ele afirmou que se sentiu "mal" ao saber da inocência de Fabiane.

Joel Silva/Folhapress
Fabiane Maria de Jesus, 33, morreu após ser espancada por moradores de Guarujá (SP)
Fabiane Maria de Jesus, 33, morreu após ser espancada por moradores de Guarujá (SP)

Segundo Barbosa, mais de cem pessoas participaram ativamente do linchamento. "Uma pessoa só não segura ninguém. Não fui só eu que agredi. Do mesmo jeito que me acharam na internet vão achar muito mais", afirmou.

Questionado se conhecia outros participantes do crime, ele não quis responder.

Em determinado momento, Barbosa virou de costas para as câmeras e ficou em silêncio, mas um policial ordenou que ele se voltasse para os jornalistas. Ele obedeceu, mas continuou em silêncio.

PROVAS E TESTEMUNHAS

O delegado do 1º DP de Guarujá, Luiz Ricardo de Lara Dias Júnior, responsável pelo inquérito, disse em seguida que Barbosa ficará preso provisoriamente durante 30 dias.

Neste período, a polícia vai buscar provas que atestem a participação dele no crime e que identifiquem outras pessoas. A polícia ainda não sabe quantas pessoas participaram do linchamento.

O delegado disse que chegou a Barbosa, a pessoa que aparece no vídeo dando golpes com um pedaço de madeira quando Fabiane já estava caída, por meio de testemunhas.

O caso é tratado como homicídio duplamente qualificado –por motivo fútil e sem possibilidade de defesa da vítima.

"Ele foi muito vago. Disse que estava sob efeito de drogas e, movido pela população, que clamava por justiça, pegou um pedaço de madeira e golpeou a moça", disse o delegado.

As pessoas que incitaram o linchamento poderão responder por crime contra a paz pública.

O delegado disse que ainda analisa o conteúdo do perfil "Guarujá Alerta", no Facebook. Segundo ele, o retrato falado que foi publicado na página "não tem qualquer semelhança física com Fabiane".

Disse também que pretende entrar em contato com a polícia do Rio de Janeiro para averiguar se o retrato foi feito por perito policial, conforme publicado na imprensa, ou por meio de programas na internet "que poderiam ser usados por qualquer pessoa".

Até a noite de hoje, oito pessoas foram ouvidas pela polícia, incluindo Barbosa.


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