Folha de S. Paulo


Nível do Cantareira fica abaixo dos 10% pela primeira vez na história

Em queda constante desde o começo do ano, o sistema Cantareira atingiu pela primeira vez na história um nível abaixo dos 10% nesta terça-feira (06). De acordo com o relatório diário da Sabesp, divulgado na manhã de hoje, o manancial opera com 9,8% de sua capacidade total – índice considerado crítico.

O local onde está o reservatório passa pela pior estiagem dos últimos 84 anos, o que agrava ainda mais o quadro do sistema.

Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), a capital paulista já está há 23 dias sem chuva significativa. Para hoje, deve chover cerca de 0,1 mm na região do Cantareira – a média para o mês é de 83,2 mm.

A última chuva significativa registrada na capital paulista ocorreu em 12 de abril. Uma frente fria, no entanto, deve se aproximar da região na próxima quinta-feira e provocar chuvas fracas.

O manancial Cantareira é responsável pelo abastecimento de parte da capital e de municípios da Grande São Paulo. No total mais de 8 milhões de pessoas recebem água do sistema Cantareira diariamente. O reservatório ainda atende municípios da região de Campinas, no interior do Estado.

Editoria de Arte/Folhapress

ABASTECIMENTO

Mesmo com o agravamento da crise, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário de Saneamento de Recursos Hídricos, Mauro Arce, afirmaram nos últimos dias que descartam a possibilidade de racionamento ainda neste ano.

O secretário disse ainda que o nível do Cantareira subirá 18,5% quando o "volume morto" (reserva de água na zona mais funda das represas) começar a ser utilizado, em 15 de maio.

O problema, segundo especialistas, é que o uso do "volume morto" das represas do sistema Cantareira vai atrasar a recuperação dos reservatórios quando a chuva voltar. Isso se deve a uma espécie de "efeito esponja", que ocorre em áreas muito secas que voltam a receber chuva.

O "volume morto" é formado pela água que está no nível mais profundo das represas. Por ficar abaixo da tubulação que capta o líquido dos reservatórios, ela precisa ser bombeada para a superfície.

Se o próximo verão não tiver temporais fortes e constantes, o risco de desabastecimento dos 9 milhões de pessoas que usam o Cantareira pode se repetir em 2015.

ÔNUS X BÔNUS

Para atenuar os efeitos da crise hídrica, o governo do Estado adotou uma medida de bonificação para quem economizar água. Quem poupa 20% de água recebe um desconto de 30% na conta. Segundo a Sabesp, cerca de 75% da população tem recebido o bônus na conta.

Como forma de punir aqueles de desperdiçam, o governo do Estado estuda uma forma de aplicar uma "multa". A cobrança ainda não tem data para começar a vigorar em São Paulo e ainda depende uma regulamentação da Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo).

Além da política de bônus e ônus, a Sabesp faz manobras durante a madrugada em determinadas regiões de São Paulo. Durante o período, a empresa diminui a pressão no encanamento e reduz o fornecimento de água em determinadas áreas.

A água só volta durante a manhã, geralmente esbranquiçada por conta do aumento do uso de cloro.


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