Folha de S. Paulo


Ataque de traficantes faz Rio preparar novas ações em UPPs

De norte a sul da cidade, os tiroteios quase diários em diferentes favelas ocupadas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) mostram que traficantes desafiam cada vez mais o maior projeto de segurança do Rio.

No Complexo do Alemão, entre a noite de anteontem e a manhã de ontem, foram baleados quatro policiais militares, três do Bope.

No dia 30, após cinco anos sem ouvir um disparo, moradores de Botafogo ouviram tiros no morro Dona Marta.

A 42 dias da Copa do Mundo, o governo do Estado prepara uma reação com dois momentos distintos.

Ricardo Moraes/Reuters
Moradores e policiais entram em confronto durante protesto contra morte de jovem no Pavão-Pavãozinho
Moradores e policiais entram em confronto durante protesto contra morte de jovem no Pavão-Pavãozinho

Até a Copa, a ideia é aumentar o policiamento nas ruas e nas UPPs. Depois do torneio, há consenso na Secretaria de Segurança que algumas áreas com UPPs exigirão uma ação mais forte, para serem retomadas.

Em maio, o período de folgas dos policiais será reduzido de 24h para 8h. A medida aumentará o policiamento e tentará frear a alta nos índices de roubos, que aumenta a sensação de insegurança.
Associações de PMs se manifestaram contra a medida.

Durante o Mundial, a prática será mantida, aliada à presença nas ruas de forças de segurança dos governos estadual e federal. Espera-se que o contingente policial iniba as ações de traficantes.

Nesse período, a estratégia é deixar de lado o confronto com facções para tentar evitar que moradores sejam vítimas, o que causaria mais prejuízo à imagem da cidade.

Editoria de Arte/Folhapress

O Rio receberá sete jogos do Mundial e o centro de mídia para jornalistas.

"A sociedade precisa acordar que a crise é do tráfico. Nossos policiais estão sendo atacados covardemente. Estamos sendo vítimas de sabotagem, que o oportunismo político reverbera", disse ontem o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

Setores do governo discutem como será feita, após a Copa, o que chamam de "nova retomada" de territórios como Alemão e Rocinha, onde traficantes já andam com fuzis e ameaçam moradores.

Há quem defenda que a volta dos confrontos nas comunidades e ações de inteligência nos presídios serão necessárias para que o projeto não se perca. Mas ainda existem resistências a isso.

"A PM não está preparada para as exigências de uma política de polícia comunitária. Continua sendo preparada para conflitos", avalia o sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ (universidade federal do Rio).

VOLTA DE TRAFICANTES

Desde que começaram a ser instaladas há cinco anos, as UPPs causaram um efeito: traficantes com ficha criminal fogem e levam armas. Deixam para trás os que não respondem a processos e menores.

No início, os adolescentes cuidavam apenas da venda da droga na favela, mesmo ocupada. Atualmente, são vistos ameaçando pessoas e incendiando ônibus.

A existência de policiais corruptos levou de volta às comunidades traficantes como Yuri Benedito da Silva, no Tabajaras, em Copacabana.

Em liberdade condicional, Silva chegou a andar no Tabajaras com a tornozeleira implantada pelo sistema penitenciário para vigiar seus passos. Após conseguir tirar o equipamento, passou a promover festas e ameaçar moradores, apesar da UPP.

Para a antropóloga Alba Zaluar, há indícios de aliança entre PCC (Primeiro Comando da Capital), de SP, e Comando Vermelho, do Rio. "Com a aproximação da Copa, eles ganham ímpeto. E a PM está ficando mais dura também. A lógica da guerra, infelizmente, está voltando."

COLABOROU ITALO NOGUEIRA


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