Folha de S. Paulo


Moradores reclamam de transtornos com obras do Rodoanel

Explosões sem aviso que fazem tremer as residências junto com o zigue-zague frenético dos caminhões pesados que acabaram com centenas de metros de asfalto que havia na rua. Barulho constante de serras elétricas e animais saídos da mata que aparecem dentro de casa.

As obras do Rodoanel Norte têm causado transtornos materiais e psicológicos em vários dos bairros vizinhos à construção da rodovia.

O tranquilo dia a dia dos moradores do Tremembé, na zona norte de São Paulo, mudou completamente desde o fim do ano passado, quando começou a construção da via, que deve ficar pronta até 2016.

"A poeira é enorme. Mesmo com esse problema de água precisamos lavar o quintal todos os dias", afirma José Antônio Moura, ao mesmo tempo que mostra várias trincas em sua casa, segundo ele, provocadas pela obra.

Luiz Carlos Murauskas - 8.abr.2014/Folhapress
Matilde da Silva Frade de Abreu, 86, planta chuchu há mais de 70 anos, e teme perder terreno com construção do trecho norte do Rodoanel
Matilde da Silva Frade de Abreu, 86, planta chuchu há mais de 70 anos, e teme perder terreno com construção do trecho norte do Rodoanel

Logo em frente, perto de um dos canteiros da construção, há trânsito de dezenas de caminhões diariamente.

Os veículos, sempre carregados, destruíram o asfalto da rua, que agora está cheio de buracos perigosos.

Na rua ao lado, uma moradora que prefere se identificar apenas como Helena, é mais enfática na reclamação.

"Estou dormindo de máscara todos os dias. Não era alérgica, mas depois que essa obra começou passei a ter dificuldades respiratórias".

De acordo com a moradora, pessoas idosas da rua também estão assustadas com as explosões que vêm do outro lado do morro. As dinamites usadas para abrir as rochas da serra da Cantareira, segundo ela, são detonadas sem nenhum tipo de aviso.

"Como a casa treme, sempre existe o susto das pessoas", diz Helena, que afirma ser contra a obra por destruir pedaços de mata atlântica.

Moradores da Vila Rica, na zona norte, reclamam que a retirada de vegetação está afugentando animais para dentro de suas casas.

"Além do barulho das serras elétricas e dos caminhões, existem os animais que aparecem em casa. São macacos, pequenos roedores e diversos tipos de pássaros", afirma a publicitária Daniela Maio.

DESINFORMAÇÃO

Há três gerações, cerca de 80 anos, a família de origem portuguesa Silva Frade vive e tira o sustento de uma propriedade com 27 mil m² na Vila Rica, área que está na área do Rodoanel Norte. A família afirma viver um incômodo emocional com a incerteza de seu futuro na propriedade.

Os Silva Frade dizem que até hoje, um anos após o início da obra, não sabem ao certo se serão obrigados a deixar o local e que recebem informações desencontradas sobre um possível processo de desapropriação.

Quem mais se abala com a situação é Matilde da Silva Frade Abreu, 86, matriarca de seis famílias –23 pessoas– moradoras da propriedade, que tem plantação de chuchu e de gengibre.

"Todas as informações que tivemos até hoje foram desencontradas. Nenhuma comunicação exata tivemos. Já falaram informalmente que podemos perder um trecho, que pegaria a casa da minha avó, e até a propriedade toda", afirma o gestor Marcio Gonçalves Maio, da terceira geração da família no local.

OUTRO LADO

A OAS, que realiza as obras do trecho norte do Rodoanel, afirmou que toma medidas para tentar diminuir os transtornos aos moradores e que, nos casos em que se comprovem danos às edificações, reparos serão feitos.

Segundo a empresa, "é realizada periodicamente a umidificação com caminhões pipa das vias próximas ao empreendimento". As ruas afetadas serão reformadas

Sobre as explosões, a OAS informou que "os moradores foram alertados por meio de comunicados de segurança" sobre as ocorrências.

A Dersa informou que "os trabalhos de desapropriação estão em continuo desenvolvimento" e negou que haja falta de informação às famílias atingidas.

Sobre os Silva Frade, a empresa afirmou que eles foram cadastrados e foram orientados "sobre todas as etapas do processo." "A avaliação e cálculo de indenização foi feita em 27 de
dezembro de 2013.

Segundo a Dersa, no começo deste mês, uma equipe técnica foi à propriedade da família "para sanar todos os questionamentos". A empresa disse que há monitoramento, ações de afugentamento e resgate da fauna silvestre em toda a obra.


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