Folha de S. Paulo


Mãe de dançarino assassinado lidera protesto em Copacabana

Cerca de 300 moradores da comunidade Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul do Rio, realizam na tarde deste domingo (27) um ato em homenagem ao dançarino Douglas Pereira, o DG, cujo corpo foi encontrado baleado nos fundos de uma creche no morro.

Eles se reuniram às 14h no canteiro central da avenida Atlântica, na altura do posto 5 da praia de Copacabana, e caminham pela orla em direção ao Leme, carregando cartazes que criticam as Unidades de Polícia Pacificadora e pedem paz e justiça.

A mãe do dançarino, Maria de Fátima da Silva, comanda o ato tocando um surdo e usando um megafone para falar aos manifestantes. Alguns integrantes carregam tambores e o grupo alterna cantos em memória de DG e contra as UPPs, além de gritos de "não vai ter Copa".

O protesto foi acompanhado por cerca de 50 PMs e duas viaturas, que foram hostilizados em alguns momentos, assim como parte da imprensa.

Após caminharem pela orla, os manifestantes voltaram para a frente do prédio onde DG morava com sua mãe, em Copacabana. Lá, Maria de Fátima se dirigiu aos policiais. "Vocês mataram um menino que morava nesse prédio há 20 anos, porque gostava de funk e subia na favela para ensaiar criança. Vocês tiraram a vida do meu filho. Eu sei que vocês têm filhos e tudo que se faz nessa vida se reflete, vocês olhem bem. Aqui é uma mãe que está chorando, com o coração sangrando."

HOMENAGEM NA TV

Douglas Pereira também foi homenageado no programa dominical "Esquenta", da TV Globo, no qual atuava como dançarino. A apresentadora Regina Casé abriu o programa com um discurso emocionado.

"Eu faço um programa que era para ser só alegria. Mas mesmo num programa que é uma festa, a realidade foi me empurrando para temas terríveis como este que a gente está vivendo hoje. Hoje, infelizmente, não conseguimos por no ar o programa lindo que já estava pronto, porque um dos nossos dançarinos, talvez o mais alegre, o mais querido pelas crianças, foi brutalmente assassinado com um tiro pelas costas", disse Casé, vestida de branco como os demais convidados, entre os quais a mãe de DG.

"A gente saiu do enterro sem condições de pensar em nada, mas tendo de pensar em tudo. Como é que a gente ia fazer para parar tudo e tomar consciência do tamanho da barbárie? Acho que a gente conseguiu tomar consciência para que alguma coisa mude, para que o aconteceu com o DG não continue acontecendo com milhares de jovens que vivem em todas as periferias de cidades do Brasil. A maior violência que tem é a impotência. Parece que tem tanta coisa para fazer que não dá pra fazer nada. Temos que dar um jeito de quebrar esse sentimento de impotência."

Bruna Fantti/Folhapress
Mãe de dançarino DG lidera ato em sua homenagem no Rio de Janeiro
Mãe de dançarino DG lidera ato em sua homenagem no Rio de Janeiro

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