Folha de S. Paulo


Racionamento pode deixar casas por dois dias seguidos sem água

Projeções da Sabesp sobre a adoção de um racionamento na Grande São Paulo apontam que a maioria da população ficaria no mínimo dois dias seguidos sem água para cada dia de abastecimento.

Em razão da topografia, regiões mais altas e periféricas poderiam ficar com suas torneiras secas por até cinco dias consecutivos, dada a complexidade da operação para ligar e religar os sistemas de adutoras e tubulações.

As informações a que a Folha teve acesso indicam que variáveis de difícil controle entrarão no cenário se um racionamento for deflagrado.

Por isso, tanto técnicos como dirigentes da Sabesp defendem que o rodízio é mais prejudicial à população e à imagem da empresa do que a manutenção do abastecimento nos moldes atuais.

O próprio diretor da Sabesp Paulo Massato afirmou à Folha em março que um eventual rodízio "é uma operação de guerra".

Segundo ele, o risco de rompimento de tubulação, quando a água é religada após alguns dias sem ser usada, por exemplo, aumenta de forma considerável.

Dirigentes da empresa ouvidos pela reportagem afirmam que seria impossível garantir que as 8,8 milhões de pessoas que são abastecidas pelo Cantareira na região metropolitana de SP sofreriam as mesmas consequências no caso de haver racionamento.

Especialistas ratificam essa análise e afirmam que dois dias sem água, na verdade, pode ser muito para alguns e pouco para outros. No caso dos condomínios de prédios, por exemplo, com caixas de água grandes, acumular água é mais fácil.

Porém, em áreas onde a população costuma ter caixas pequenas para armazenar água, o desabastecimento real, na torneira, será inevitável em algum momento. A questão geográfica agrava ainda mais a situação.

Num cenário de rodízio, quando o sistema de abastecimento é religado, as pessoas que vivem nas regiões mais baixas de São Paulo recebem água primeiro.

Como haveria nova interrupção, essas pessoas fariam estoques de água, o que diminuiria a vazão para quem mora em zonas mais altas. Por isso, dizem os técnicos, áreas altas e longe dos reservatórios poderão ficar mais de dois dias sem água.

A posição da Sabesp, contrária à adoção do rodízio, tem gerado atritos políticos.

A direção da empresa diz que, apesar de o Cantareira estar com só 12,2% da capacidade, menor nível da história, há condições de manter o abastecimento nos moldes atuais até novembro, por causa do uso do "volume morto" -água do fundo das represas nunca utilizada até agora.

A Sabesp prega que a nova temporada de chuvas, a partir de setembro, pode ajudar a solucionar a crise. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse a aliados não estar mais convicto de que os cálculos dos técnicos da Sabesp estão corretos.

Ele se prepara para disputar a reeleição e sabe que a crise será usada por adversários. Alckmin teme que ela atinja seu auge em outubro, mês das eleições.


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