Folha de S. Paulo


Sem água, bar expulsa clientes e atores ficam sem banho na praça Roosevelt

Desde a semana passada, cortes diários de água têm alterado a rotina da praça Roosevelt, no centro de São Paulo, fazendo atores dos teatros ficarem sem banho após as peças e donos de bares despacharem os clientes mais cedo.

Segundo eles, as torneiras secam pelo menos entre a meia-noite e as 9h, afetando o funcionamento dos bares e teatros da praça, um dos principais redutos culturais e boêmios da cidade.

"Nossa programação se estende pela madrugada e, sem água, tudo fica prejudicado, os atores não podem nem tomar banho depois do espetáculo. Alguns pagaram para se duchar num hotel e remover a maquiagem", diz Eduardo Carvalho, administrador do espaço Parlapatões.

A Sabesp afirma que "devido à manobras técnicas operacionais" que transferiram o abastecimento de alguns bairros do sistema Cantareira para os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê- "poderão ser constatadas eventuais intermitências pontuais" no fornecimento de água da região central.

Em março, quando anunciou a mudança dos sistemas, porém, a companhia disse que não haveria qualquer transtorno e que o fornecimento de água não seria prejudicado.

Joel Silva/Folhapress
José Santos, 50, dono de bar com falta de água em São Paulo
José Santos, 50, dono de bar com falta de água em São Paulo

BANHEIROS

Egbert Mesquita, do Teatro do Ator, afirma que não houve aviso de falta de água.

"Poderíamos ter pensado em horários alternativos. Agora, o público fica sem banheiro limpo e sem água nos bebedouros", diz ele.

O problema é o mesmo nos Satyros, que faz apresentações à meia-noite. "Esse racionamento tem afetado o funcionamento dos banheiros e do nosso café", diz Robson Catalunha, ator do grupo.

José Santos, do bar "Amigos do Zé", acha que o racionamento já começou: "No sábado deu pena. A casa lotada e eu mandando os clientes embora pouco depois da meia-noite. Não tinha mais como lavar os copos ou dar descarga no banheiro."

Tânia Bragantini, do Mr. Cult, afirma que o prejuízo maior é na cozinha. "Sem água, não dá nem para servir lanche; só bebida e em copo descartável", diz.

Vizinha aos dois bares, Yara Medeiros, do Espaço Mini, conta que os comerciantes já têm até um código para a falta d'água. "Gritamos um para o outro: 'Aqui já acabou', e emprestamos copos descartáveis, um balde cheio para ajudar", conta.

Moradores dos edifícios da Roosevelt, porém, dizem não ter notado os cortes noturnos, pois contam com caixas d'água grandes.

"Temos uma reserva de 50 mil litros. No horário em que falta, a maioria dos moradores já tomou banho e dormiu", diz Ilza Helena Carvalho, síndica de um prédio de 96 apartamentos na praça.

Um morador que a ouviu conversando com a reportagem, interrompeu: "Não fala que está sobrando, logo mais tem gente pedindo água na nossa porta."


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