Folha de S. Paulo


Hugo Di Domenico (1914-2014) - O médico que falava tupi-guarani

Paraibuna significa rio ruim e de águas escuras em tupi. Taubaté, em uma das versões mais aceitas, é moradia elevada. Já Guaratinguetá, o lugar de muitas garças.

As palavras indígenas que cercaram sua infância no Vale do Paraíba eram cuidadosamente anotadas e catalogadas pelo médico Hugo di Domenico.

Em 2008, quando as fichas acumuladas ao longo de décadas chegaram a 50 mil verbetes traduzidos para o português, Di Domenico conseguiu publicar o que chamou de sua obra-prima: o Léxico Tupi-Português.

"Não é que eu queira que toda criança fale tupi. Mas desejo que os estudantes entendam a influência do tupi na nossa língua", disse ele em uma entrevista, certa vez.

Ele dizia achar estranho que os brasileiros vivessem em meio a tantas palavras indígenas desconhecendo a sua origem e significado.

Filho de imigrantes italianos, Di Domenico teve 14 irmãos. Aos 17, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atual UFRJ.

Assim que se formou, em 1937, mudou-se para Taubaté, onde começou a clinicar.

Era comum que ficasse até depois do seu expediente no consultório para atender pacientes sem dinheiro.

Tinha ainda o costume de, com longas conversas, convencer até mesmo o mais teimoso dos pacientes.

Trabalhou no consultório montado em casa até seu aniversário de 99 anos, quando uma arritmia cardíaca o afastou da medicina. Morreu no domingo, vítima de uma embolia pulmonar. Deixa a viúva, três filhos, cinco netos e um bisneto.

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