Folha de S. Paulo


Polícia do Rio faz reconstituição de confronto que matou 10 na Maré

Quase um ano depois da operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Maré, zona norte do Rio, que deixou 10 mortos, cerca de 140 policiais civis realizam na tarde desta terça-feira (8) a reconstituição das mortes de três vítimas apontadas pela investigação como inocentes.

Segundo a polícia, as mortes foram resultado de um confronto entre PMs e criminosos entre a noite do dia 24 e a manhã do dia 25 de junho de 2013. A corregedoria da Polícia Militar abriu inquérito para investigar denúncias de excesso na ação do Bope na operação.

Segundo o delegado titular da Divisão de Homicídios da cidade, Rivaldo Barbosa, serão feitas as reproduções simuladas das mortes de Jonatha Farias da Silva, 16, e Heraldo Santos da Silva, 35, moradores do conjunto de favelas, além do sargento do Bope Ednelson Jerônimo dos Santos Silva, 42.

A investigação, apesar de apontar os dois moradores mortos pelo Bope como inocentes, ainda avalia se Jonatha, 16, teria trocado tiros com a polícia. Já em relação às outras sete mortes, os policiais farão perícias complementares apenas para cruzar informações.

"Aguardamos [esse tempo todo] porque aproveitamos o momento mais apropriado. A gente ia fazer há uns dois meses atrás, mas tivemos a informação de que a região seria pacificada e resolvemos prorrogar o trabalho. Aproveitamos que a pacificação é uma janela de oportunidade", disse Rivaldo Barbosa à imprensa, antes de iniciar a reconstituição, que começou por volta das 14h30.

Pelo menos 40 PMs do Bope e Batalhão de Choque são investigados por Barbosa, além dos comandantes dos batalhões à época da operação. De acordo com o delegado, não há prazo definido para concluir as diligências. A previsão é que a reconstituição ocorra até amanhã de manhã (9).

A mobilização conta com cinco delegados, 10 peritos criminais, três legistas, 80 agentes da Divisão de Homicídios, além de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). A Polícia Civil informou que esse é um dos maiores trabalhos de reconstituição da história da polícia.

Barbosa comparou o trabalho na Maré a reconstituição do caso do desaparecimento e morte presumida do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no ano passado, que durou 18 horas com cerca de 100 policiais.

O trabalho na Maré começou pela favela Baixa do Sapateiro e seguiu para a Nova Holanda — duas das 15 que formam o Complexo da Maré.

"Faremos essa reconstituição em diferentes pontos da Maré. Cada um desses 40 homens [do Bope] vai dizer onde estava na hora da operação dentro da favela. Isso é para tirar dúvidas sobre as versões e comparar perícias anteriores", disse.


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