Folha de S. Paulo


Sobrevivente do Carandiru diz que não acredita em prisão de PMs

Um dos sobreviventes do massacre do Carandiru, Sidney Francisco Sales, 46, afirma não acreditar que a condenação dos PMs seja revertida em penas graves, como prisões ou exonerações.

"Provavelmente, eles [PMs]não vão exercer as mesmas funções, mas acho que serão, no máximo, transferidos para áreas administrativas", afirmou ele à Folha, ontem.

Sales chegou no Carandiru em 1987 pelo crime de roubo de carga e foi transferido para outro presídio logo depois do massacre, em 1992.

No momento da invasão do Carandiru, Sales estava no 4º andar do pavilhão nove. Fazia parte da equipe de faxina.

"Vi policiais atirando em muitos presos que sequer tentaram reagir. Depois, os policiais me obrigaram a carregar 35 corpos para ambulâncias e carros do IML [Instituto Médico Legal]. Tenho dificuldade para dormir até hoje."

Joel Silva/Folhapress
Sidney Francisco Sales, um dos sobreviventes do massacre do Carandiru; ele diz não acreditar na prisão de réus
Sidney Francisco Sales, um dos sobreviventes do Carandiru; ele diz não acreditar na prisão de réus

O ex-detento considera que os policiais apenas cumpriram ordens, mas deveriam ser exonerados mesmo assim.

"Também devem ser punidos aqueles que ordenaram as mortes. A Justiça deve punir o [então] governador [Fleury], o [então] secretário da Segurança e os comandantes que ordenaram os assassinatos na época", defende.

Parte da história de Sales foi reproduzida no filme "Carandiru". Na invasão, ele diz ter se ajoelhado e rezado várias vezes um trecho do salmo 91 que sua mãe havia lhe enviado em uma carta: "Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti."

Sales afirma que o Estado deveria indenizar as famílias das vítimas. "Conheço muitas mães e mulheres de pessoas que morreram, mas nenhuma recebeu nenhum centavo. O Estado foi incompetente em permitir a invasão."

Quando ganhou a liberdade, Sales não conseguiu um emprego e se viciou em crack.

Hoje, mora em Várzea Paulista (SP), é pastor evangélico e presidente do Centro Terapêutico Educacional Cristão que trata de 150 viciados.


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