Folha de S. Paulo


Família reconhece cabeça achada na Sé; confirmação depende de DNA

A polícia acredita estar perto de solucionar o mistério da cabeça encontrada há quase uma semana na praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo. Familiares de um homem desaparecido desde o mês passado disseram ter reconhecido a cabeça.

A confirmação, porém, deve levar no mínimo 15 dias, pois depende de um exame de DNA. A polícia científica vai recolher material genético dos familiares para comparar com o do morto.

O grau de acerto, se a comparação for com células do pai ou da mãe, é "altíssimo", diz a chefe da polícia científica, Norma Bonaccorso.

Dias antes, outras partes do corpo foram localizadas em três diferentes pontos de Higienópolis, na região central, no entorno do cemitério da Consolação.

Com a ajuda de um tomógrafo, que gera imagens de alta qualidade, peritos compararam a área do pescoço para ver se a cabeça e o tronco achados se "encaixavam".

Tomógrafos, iguais aos de hospital, são usados em perícias em São Paulo desde 2007, quando a polícia precisou identificar centenas de vítimas do acidente com o Airbus da TAM, em Congonhas.

Falta ainda encontrar a bacia, com os órgãos genitais, e as pontas dos dedos.

A partir da identificação da vítima, foco atual da investigação, a polícia espera chegar ao assassino. Vai rastrear endereços e apurar se o morto sofria ameaças.

Joel Silva/Folhapress
Cabeça humana foi deixada em saco plástico verde na praça da Sé; polícia ainda não tem suspeitos
Cabeça humana foi deixada em saco plástico verde na praça da Sé; polícia ainda não tem suspeitos

SEM IDENTIFICAÇÃO

Por ano, passam pelo IML, em todo o Estado, cerca de 33 mil corpos. Desses, 1.500 não têm identificação. Pela regra, todos têm de ser enterrados em até 72 horas.

Os não identificados ganham, então, um número e um arquivo, com fotos, digitais -se possível- e cópia da arcada dentária, para um eventual reconhecimento por familiares que deem queixa do sumiço no futuro.

Hoje, a coleta de material para um futuro teste de DNA é facultativa. Segundo a chefe da polícia científica, a ideia é torná-la obrigatória -o que ainda não tem prazo.

As técnicas de identificação de corpos em uso dependem de um ponto de partida: uma hipótese sobre quem é o morto e material para comparação (veja quadro).

Para partir do zero, explica Norma, seria preciso coletar amostras de DNA de todos os recém-nascidos, para a criação de um banco universal para comparações -o que suscita problemas éticos e não existe em nenhum país.

"Países como a Espanha proíbem qualquer banco de dados absoluto, como esse. É impossível saber o que os gestores farão com os dados."

Além do trabalho de identificação, os peritos analisam sinais no cadáver que possam ajudar a esclarecer a causa e o contexto da morte. No caso do esquartejado de Higienópolis, afirma Norma, "não há dificuldade para a perícia".

"Dificuldade é lidar com o público e com a comoção que um caso desses gera", diz ela.

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

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