Folha de S. Paulo


Água está diminuindo na nascente do rio Paraíba do Sul, dizem vizinhos

Entre a serra da Bocaina e a serra do Mar, no coração do município de Cunha, nasce uma das partes do rio que é alvo de disputa entre São Paulo e Rio de Janeiro.

No meio da mata fechada um fio de água forma o rio Paraibuna, que junto com o Paraitinga dá a luz ao Paraíba do Sul.

Motivo de orgulho para quem é da cidade, a nascente do rio já passou por dias melhores, garantem os moradores do pacato município do interior de São Paulo. A seca que castiga o sudeste também prejudica o berço do Paraíba.

"Em Cunha onde você fura sai água de uma maneira geral. Hoje porém, não tá mais assim não. A seca tá castigando o Paraibuna desde seu nascimento", disse o aposentado Lourival Antero dos Santos, 80.

Criado na cidade, ele conta que dessa vez o solo, que um dia vertia água aos montes, está seco. Observação também feita pela auxiliar de serviços gerais, Benedita Aparecida, 49.

Ela é vizinha da nascente do rio Paraibuna e diz que nunca viu tão pouca água na nascente. "Tem bastante, mas sem dúvida está bem mais seco que o normal", disse.

Apesar de criticar a estiagem, ambos são a favor da transposição do Paraíba para abastecer São Paulo. "Se eles estão precisando temos que ajudar no máximo que podemos", disse Benedita.

Mas, esta opinião não é compartilhada em toda a cidade. O guia e tecnólogo em meio ambiente Nilton Raposo de Mello, 43, reclama do projeto.

"Isso vai dar problema no futuro. Vai afetar o ecossistema da região. Cunha, não vai sofrer pois o rio Paraibuna forma o Paraíba, mas na região onde deve acontecer o projeto o impacto existirá com certeza", afirmou.

A bacia do rio Paraíba do Sul responde diretamente pelo abastecimento de água para mais de 15 milhões de habitantes que vivem na região metropolitana do Rio, ou cerca de 75% da população.

O Paraíba do Sul ainda fornece o insumo para indústrias e atividades agrícolas na maior parte do Estado e abastece 17 municípios e nove cidades no Grande Rio por meio da transposição para o rio Guandu.

No Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, o Paraíba também abastece diversas cidades. No total, 4 milhões de pessoas são atendidas na região.

A ideia de utilizar a água do rio federal para abastecer o sistema Cantareira é discutida há ao menos cinco anos. O projeto já foi discutido na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), mas o foi engavetado.

A proposta nunca saiu do papel porque a transposição sempre enfrentou resistências de técnicos do Rio e também da região do Vale do Paraíba.

Agora como índice do Cantareira está no menor nível histórico – com cerca de 14% da capacidade utilizada – o Governo do Estado de São Paulo quer utilizar o excesso de água do rio Paraíba, para abastecer o sistema. Para não prejudicar os municípios que o utilizam como manancial de abastecimento somente será transferida as reservas subutilizadas – que hoje são usadas à geração de energia.

A interligação aconteceria no reservatório do Jaguari e Atibainha. O volume a ser retirado da bacia do Paraíba seria de 5.000 litros por segundo – até 20% do que é produzido pelo sistema Cantareira. As operações previstas envolvem obras, como túneis ou canais.

Segundo o plano diretor de recursos hídricos de São Paulo, os custos, em sua totalidade, podem ultrapassar a casa dos R$ 300 milhões. O prazo para execução seria de mais de quatro meses.

Editoria de Arte/Folhapress

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