Folha de S. Paulo


'Reserva é para ser usada', diz Alckmin sobre 'volume morto' do Cantareira

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou nesta quinta-feira (20) que o "volume morto" do sistema Cantareira, água que está abaixo do nível de captação da Sabesp, existe "exatamente" para ser utilizado.

"Reserva é exatamente para ser usada em momentos que você precisa. Senão não tem sentido", disse o governador, em Campinas (a 93 km de SP), ao ser perguntado se o "volume morto" do Cantareira será utilizado antes de se adotar o racionamento na Grande SP –medida defendida por técnicos.

O Cantareira abastece diretamente 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e indiretamente 5,5 milhões nas regiões de Campinas, Piracicaba e Jundiaí, mas hoje opera com apenas 14,4% de seu "volume útil" (140 bilhões de litros), nível mais baixo da história.

Os reservatórios do sistema Cantareira têm capacidade total de 1,46 trilhão de litros de água, dos quais 974 bilhões de litros compõem o "volume útil", e 486 bilhões, o "volume morto" (ou reserva técnica, segundo a Sabesp).

A Sabesp começou na segunda-feira (17) as obras para instalar as bombas que levarão a água do "volume morto" –que nunca foi utilizado– até as estações de tratamento da empresa. Os custo estimado da intervenção é de R$ 80 milhões.

A previsão é que a reserva possa ser utilizada a partir de julho, com capacidade de abastecer a Grande SP por quatro meses, pois apenas 196 dos 486 bilhões de litros de água poderão ser utilizados para isso. "O trabalho que está sendo feito é para utilizar, se necessário, menos da metade", ressaltou Alckmin.

RACIONAMENTO

Apesar de a reserva técnica representar um terço do volume total do Cantareira, especialistas alertam que é temerário utilizá-la antes de se tentar outras medidas, como o racionamento.

"O ideal seria adotar o racionamento, sem dúvida. O governo do Estado conta com essa carta na manga [o 'volume morto'], mas ela não deveria ser utilizada", diz José Cezar Saad, coordenador de projetos do Consórcio PCJ, grupo que reúne prefeituras, indústrias e entidades de 43 cidades da região de Campinas, Piracicaba e Jundiaí.

"É um risco muito grande a utilização do 'volume morto'. Dependendo da quantidade de chuva [que cair nos próximos meses] e do volume utilizado, o sistema Cantareira pode nunca mais se recuperar como um todo", afirma Saad.

Para Antonio Carlos Zuffo, diretor do departamento hídrico da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), um racionamento hoje pode evitar uma "catástrofe" no período de seca, entre abril e setembro. "Tem de gerenciar o recurso hídrico para evitar um mal maior."

"Vamos questionar as autorizações das obras para captar o 'volume morto'", diz Alexandra Facciolli Martins, promotora do Gaema (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente), órgão do Ministério Público do Estado de São Paulo. "Quanto mais se avançar no consumo dessa reserva, haverá maior dificuldade na recuperação do sistema."

"Estamos usando a 'raspa do tacho', o limite de reserva do Cantareira", afirma Rodrigo Moruzzi, professor da engenharia ambiental da Unesp de Rio Claro.


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