Folha de S. Paulo


'O Rio também será beneficiado', diz Alckmin sobre transposição do rio Paraíba

O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou nesta quinta-feira (20) que o Rio de Janeiro também será beneficiado com a eventual interligação entre o sistema Cantareira e a bacia do rio Paraíba do Sul.

"Vamos dar todas as garantias e garantir as vazões mínimas [do rio Paraíba]", disse Alckmin, em Campinas (a 93 km de SP). "É preciso ter um aproveitamento melhor das águas. O Rio de Janeiro também será beneficiado."

Alckmin se refere à possibilidade de o Cantareira transferir água para a bacia do Paraíba quando o sistema estiver perto de sua capacidade máxima. "Em 2010 o sistema Cantareira teve de abrir as comportas e inundou Franco da Rocha e Atibaia", afirmou o governador. "Essa água iria para o reservatório do Jaguari [se houvesse a interligação]."

"Interligando dois grandes reservatórios, todos ganham. Há uma sinergia", ressaltou o tucano. Apesar de repetir várias vezes que todos ganhariam com a interligação dos sistemas, Alckmin admitiu que o Cantareira será mais beneficiado. "Claro que o Paraíba é maior. É um gigante. Ele vai mais ajudar do que ser ajudado."

O plano de Alckmin, de bombear água da bacia do rio Paraíba do Sul para socorrer o reservatório do sistema Cantareira em períodos de crise, como o atual, enfrenta resistência do governo estadual do Rio de Janeiro e das cidades paulistas do Vale do Paraíba.

Enquanto o Cantareira abastece diretamente 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e indiretamente 5,5 milhões nas regiões de Campinas, Piracicaba e Jundiaí, o Paraíba é responsável pelo abastecimento de 11 milhões de pessoas no Rio de Janeiro (quase 70% da população do Estado) e mais 4 milhões no Vale do Paraíba.

"Não temos nada contra São Paulo, mas precisamos garantir a segurança hídrica do Rio", disse ontem Indio da Costa, secretário do Ambiente do Rio. Para o secretário de abastecimento do governo Sérgio Cabral (PMDB), Felipe Peixoto, a proposta de Alckmin pode gerar um "prejuízo gigantesco" ao Estado fluminense.

Zanone Fraissat/Folhapress
Trecho do rio Paraíba do Sul em Jacareí, no Vale do Paraíba
Trecho do rio Paraíba do Sul em Jacareí, no Vale do Paraíba

Em meio à crise hídrica que provoca risco de racionamento em São Paulo, Alckmin foi nesta semana a Brasília pedir à presidente Dilma Rousseff (PT) autorização para captar água da bacia do Paraíba do Sul, que é um rio federal, e despejá-la no sistema Cantareira, que está no nível mais baixo da história.

Os reservatórios do Cantareira têm volume útil de 974 bilhões de litros de água, mas hoje opera com apenas 14,4% de sua capacidade (140 bilhões de litros). Os reservatórios da bacia do rio Paraíba do Sul são muito maiores. O volume útil do sistema é de 4,3 trilhões de litros de água, e ele está com 41,8% da sua capacidade (1,8 trilhão de litros).

AFAGO AO INTERIOR

Alckmin esteve em Campinas para tentar melhorar sua imagem no interior paulista, em meio à disputa pela água do Cantareira, que é abastecido por rios das regiões de Campinas, Piracicaba e Jundiaí.

O governo do Estado e a Sabesp são criticados abertamente por diversas entidades do interior devido à crise hídrica e acusados de privilegiar a região metropolitana de São Paulo na discussão da partilha da água.

O Consórcio PCJ, associação que reúne prefeituras, indústrias e entidades de 43 cidades das regiões de Campinas, Piracicaba e Jundiaí, afirma que a atual gestão do Cantareira pode causar um colapso no sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo e nos rios do interior do Estado e colocar em risco a economia do país.

Em Campinas, o governador apenas repetiu o que já havia apresentado ontem, em entrevista à imprensa concedida na capital.

A entrevista de hoje foi concedida na Prefeitura de Campinas, que é comandada por Jonas Donizette (PSB), forte aliado de Alckmin no interior paulista.


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