Folha de S. Paulo


Tucano quer fazer de Dilma sua 'sócia' na crise da água

Ao trazer a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governo federal para o centro das ações contra o desabastecimento em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tenta transformar a petista em sócia na crise, para o bem e para o mal.

Aliados de Alckmin avaliam que, no momento em que ele explicita o pedido de apoio ao governo federal, passa a poder compartilhar com a presidente a responsabilidade por um eventual insucesso na empreitada.

Se não receber o aval da ANA (Agência Nacional de Águas) para a transposição das águas da bacia do rio Paraíba do Sul para o sistema Cantareira, Alckmin poderá dividir com o PT as críticas resultantes da crise hídrica.

Se a permissão vier, ganham os dois: Dilma terá sido solidária com o Estado, e o governador aparecerá como figura pró-ativa, ainda que estudos sobre o tema estivessem disponíveis há anos.

A presidente não entrou no jogo em vão. A seca nos reservatórios também é um problema para ela, que convive com suspeitas de crise no setor elétrico. Água, portanto, é assunto que ganhou contornos de crise para ambos.

Quando esteve em São Paulo, há dez dias, Dilma conversou a sós com Alckmin. Os dois dissertaram sobre os problemas nos reservatórios. No fim da conversa, Dilma disse: "Avisei ao meu pessoal para não fazer disputa política desse assunto".

A mensagem frustrou planos do pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, considerado o principal adversário à reeleição de Alckmin. O petista chegou a dizer que faltavam sinceridade e responsabilidade ao Bandeirantes para lidar com a crise, mas foi obrigado a mudar de tom.

"O governador deve aproveitar esta oportunidade para apresentar projetos estruturantes que aumentem a capacidade de fornecimento de água", disse Padilha ontem, ao comentar o pedido de Alckmin a Dilma.

O Bandeirantes aposta no apelo ao governo federal para montar o discurso de que Alckmin está agindo tanto no curto -com o desconto para quem economiza- como no longo prazo, já que a transposição levará mais de um ano para dar resultados.

Mas, na verdade, os governos estadual e federal estão, neste momento, focados em um ponto: a crise da água precisa ser contida até outubro, o mês das eleições.


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